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150 ANOS DE NEPOMUCENO

Léa Vinocur Freitag
01/05/2014



Alberto Nepomuceno foi pioneiro na elaboração da estética nacionalista. Batalhou pela causa do canto em português, que era desacreditado, defendendo o lema: “Não tem pátria o povo que não canta na sua língua”. Nascido em Fortaleza, viveu em Recife e destacou-se no Rio de Janeiro, aperfeiçoando os estudos musicais na Europa. Sua posição abolicionista levou-o a uma atuação política e é interessante lembrar que o Ceará, sua terra natal, foi a primeira província a libertar os escravos. Suas canções com textos de poetas representativos chegam à essência do lied brasileiro, que é a nossa canção. “Trovas” tem versos de Osório Duque Estrada, autor da letra do Hino Nacional. É uma obra exacerbada, dramática no recitativo inicial, terminando com uma afirmação radical: “Minh’ alma não sendo tua, não será de mais ninguém!”.

Quando Mário de Andrade considera uma “insensatez maravilhosa” o Congresso da Língua Nacional Cantada, realizado pelo Departamento Musical de Cultura de São Paulo em 1937, propõe “ir em busca do Brasil e de sua verdadeira significação histórica no mundo”. É uma guerra nacionalista através da língua, propondo uma maneira unificada de falar. Essa busca de raízes brasileiras vem desde a Semana de Arte Moderna, em 1922. Nepomuceno foi compositor, pianista, organista e regente. Nasceu em Fortaleza (1864) e faleceu no Rio (1920).

Em geral, os compositores pertencem a famílias de músicos, o que também se observa em Nepomuceno. Ele iniciou os estudos musicais com o pai, que era violinista, professor, mestre da banda e organista da catedral de Fortaleza. A família transferiu-se para Recife, onde Nepomuceno prosseguiu os estudos musicais e cultivou a amizade de alunos e professores da Faculdade de Direito de Recife, que era um grande centro intelectual do país, da mesma forma que a Faculdade de Direito em São Paulo. Nepomuceno tornou-se defensor das causas republicana e abolicionista no nordeste, sem descuidar dos estudos musicais - atuou como violinista no Teatro Santa Isabel. Aliás, pela sua própria estrutura agrária, o Ceará foi a primeira província a libertar seus escravos (1884). No ano anterior à abolição (1887) houve a primeira audição da “Dança de Negros” de Nepomuceno, uma das primeiras composições com temas afro-brasileiros.

A pesar da posição política republicana, Nepomuceno chegou a ser convidado para o Paço Imperial pela Princesa Isabel, pois já estava no Rio de Janeiro desde 1885. O grande interesse de Nepomuceno pela literatura brasileira e pela valorização da língua portuguesa pôde aproximá-lo dos mais importantes autores da época, cujos versos musicou: Melo Moraes Filho, Juvenal Galeno, Machado de Assis, Raimundo Correia, Heine, Orlando Teixeira, Gonçalves Dias, Osório Duque Estrada, Olavo Bilac, Coelho Neto. A obra vocal compreende 40 canções, com versos em alemão, francês, italiano, latim e português. Em 1888, Nepomuceno viajou para a Europa, onde permaneceu por muitos anos, estudando com grandes mestres em Roma, Berlim e Paris. Casou- se em 1893 com a pianista norueguesa Walborg Bang, que era aluna de Grieg. Nepomuceno estreitou o contato com Grieg, consolidando o ideal nacionalista. Conheceu também a obra de Debussy, que divulgou principalmente no Brasil.

Em 1895, Nepomuceno realizou um concerto com canções brasileiras no Instituto Nacional de Música no Rio de Janeiro, que gerou divergências entre os que consideravam a língua portuguesa inadequada ao “bel canto”. Houve polêmica na imprensa e ele afirmava: “Não tem pátria um povo que não canta em sua língua”. Nepomuceno restaurou diversas obras do Padre José Mauricio e apoiou compositores populares, além de incentivar a edição das primeiras obras de Villa-Lobos.

Um dos projetos de Nepomuceno consistiu na execução pública do Hino Nacional, homenageando Francisco Manuel da Silva. Divulgou pioneiramente autores europeus, além dos brasileiros Carlos Gomes, Barroso Neto, Leopoldo Miguez e Henrique Oswald. Nepomuceno sofreu muitas pressões por suas posições inovadoras e pediu demissão do Instituto Nacional de Música. Ficou doente e morreu pobre, aos 56 anos.


Fonte: Rotary Club de São Paulo (pdf)



É doutora em Ciências Sociais pela USP, onde atua como Professora Titular na área de Comunicações e Artes.
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