É assustador ver tantas coisas complicadas que acontecem na vida. No entanto, muitas pessoas, em vez de simplificar, vão complicando tudo ainda mais. Fica difícil prever o futuro das crianças que vivem no que sobrou das famílias desestruturadas pelos conflitos humanos, os quais se multiplicam cada vez mais de forma acelerada. Situações de caos humano passam a ser consideradas como normais. Existência vazia, sem espaço para os sonhos de uma vida melhor.
A diversidade cultural acabou? Parece que só há cultura de massa de baixo nível. Filmes barulhentos, violentos, em que são apresentadas muitas cenas de sexo explícito, valorizando uma forma superficial de viver como se a vida não tivesse valor algum. Uma pena porque o som, as imagens e interpretação atingiram níveis extraordinários. Só falta conteúdo de qualidade.
O filme Grande Hotel Budapest, inspirado nos escritos e na vida de Stefan Zweig, o autor de Brasil País do Futuro, é um bom exemplo disso. Nascido em Viena em 1881, o autor, desiludido com a falta de objetivos nobres para a humanidade, afastou-se de sua terra natal em 1934, após a ascensão de Hitler.
Estrelado por Ralph Fiennes, que interpreta Gustave, o competente “concierg”, tem como cenário o período turbulento entre as duas insensatas guerras mundiais que destruíram a Europa. Gustave, uma pessoa impetuosa, que deplorava o despotismo, ficava comovido e alegre nos raros momentos em que percebia a existência de atitudes humanas em meio às barbáries da guerra. Se em 1932 o personagem achava isso, o que diria o autor Stefan Zweig desta nossa época áspera e insensível, com a extrema desvalorização da vida?
O futuro da humanidade se complica sem o vislumbre de uma vida feliz. Há no ar uma desagradável percepção de que tudo está perdendo o encanto e que a situação geral do mundo tende para a desestruturação e retrocesso. Isso não está bem visível, mas há sinais de que é possível o desmanche da forma de viver vazia, com pouco sentido, sem que se consiga perceber para onde a coisa vai; mas com certeza não é na direção da humanização da vida e do despertar da alma. Isso é muito grave, pois temos alimentado a esperança da consolidação da paz e do progresso. Necessitamos que a população seja motivada para a busca da elevação da qualidade humana e da vida, para que esse cenário sombrio seja revertido. Somos todos responsáveis pela conquista da paz para a espontânea alegria de viver.
Muitas pessoas não amadurecem logo, não assumem a sua responsabilidade, achando sempre que a culpa é do outro, que a responsabilidade é do outro, sem olhar para si mesmos nem reconhecer o muito que lhes falta como seres humanos em vez de ficar reclamando de tudo. Pensamentos e palavras de descontentamento são altamente destrutivas, quebram a harmonia desestabilizando o ambiente. O mundo está insensível, mas temos de aceitar a realidade de que cada um de nós tem a sua parcela de responsabilidade nisso. Temos de modificar a sintonização e buscar a melhora, a começar com pensamentos e palavras construtivas e benéficas.
O ser humano pensa que tem capacitação para controlar tudo o que acontece, mas isso não é verdade. Possui o livre arbítrio que é inerente à espécie espiritual, podendo interferir em tudo na vida, para o bem ou para o mal, com a força do querer e pensar. Também pode investir contra a natureza, destruindo seus mecanismos automáticos, ou adaptar-se a ela para benefício da humanidade. As leis naturais têm eficácia em todo o Cosmo, mas permanecem ignoradas em nosso planeta.
A vida está muito pressionada. Há muita inquietação e receios. Há um apagão quanto às incertezas que o futuro nos reserva. Na forma complicada de viver, as pessoas não têm olhos para tentar ver o que realmente é a vida. De onde viemos? Temos o corpo para uma temporada, e depois para onde vamos? O que levaremos conosco? Teríamos nascido por acaso, para nada, para uma forma vazia de viver sem propósitos?
Falta uma ação integrada para o bem geral. Falta o desenvolvimento dos atributos humanos, tais como generosidade, lealdade, consideração, seriedade, bom senso, serenidade, pensar com clareza. Falta o empenho no preparo da população para levar a vida com toda a seriedade, na busca de alvos elevados e nobres.
A esperança é de que, se tivermos tempo, confiança na justiça das leis naturais da Criação e agirmos no sentido delas, as coisas irão se ajustar na busca do equilíbrio. Mas isso dependerá da capacidade de sermos perseverantes e de pararmos de criar mais complicações em nossas vidas.