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O CARBONO NOSSO DE CADA DIA

Aron Zylberman
16/09/2014



Foi publicado agora, no mês de setembro, mais um relatório do IPCC. Recomendo a todos, que se interessam pelo tema, que leiam o sumário executivo “Climate Change 2013 – The Physical Science – Summary for Policymakers” (Mudanças Climáticas 2013 – Síntese para Formuladores de Políticas Públicas).

As evidências científicas de que o nosso planeta está aquecendo são irrefutáveis, como também não há dúvidas de que esse aquecimento é antropocêntrico. Sempre continuarão existindo os céticos de boa e má fé. Para aqueles que têm dúvida sobre a existência dos céticos de má fé recomendo a leitura do livro “Merchants of Doubt: How a Handful of Scientists Obscured the Truth on Issues from Tobacco Smoke to Global Warming by Naomi Oreskes and Erik M. M. Conway (Mercadores da Dúvida: Como um grupo de cientistas oculta a verdade sobre temas como malefícios do tabaco e aquecimento global).

Mas vamos falar dos nossos edifícios e o que eles têm a ver com esse aquecimento. Todo o capital construído tem muito a ver com o aquecimento global, todos os materiais que entram na construção de qualquer edificação colaboraram para a emissão de gases de efeito estufa (GEE). Uns mais, outros menos. Não podemos nunca subestimar os gases emitidos no transporte de tudo aquilo que é reunido em um canteiro de obras, para permitir uma construção. Isso inclui todos os materiais e todas as pessoas que trabalham no canteiro.

Mas vamos dar um passo atrás. Antes de chegarmos ao canteiro, onde os processos construtivos poderão ter um peso maior ou menor na emissão de GEE, precisamos pensar nos projetos e nas suas implicações na escolha dos materiais e dos processos construtivos. E muito importante, na operação futura do edifício. Quanto de água e energia será consumido nessa operação ao longo de toda a vida útil da edificação. Quanto será gasto na manutenção, que poderá se muito facilitada e barateada se fizer parte dos parâmetros que definirão o projeto. E finalmente, como será o descomissionamento e demolição desse empreendimento. Quanto será aproveitado, para uma construção futura, de todos aqueles materiais que foram utilizados na construção do edifício.

Sei que essas preocupações estão muito distantes da maior parte dos atores do nosso setor, mas afirmo que isso não continuará por muito tempo. Em face de pressões regulatórias, derivadas de acordos internacionais, que serão finalmente assinados nos próximos anos (desejavelmente até 2015), todos os países signatários terão que alterar a sua legislação para se adaptar a esses novos tempos de baixa emissão de GEE. Provavelmente, muitos dos que tiverem a paciência de ler esse artigo vão discordar das minhas afirmações, mas infelizmente eu acredito que tudo acontecerá, talvez não tão cedo, como seria prudente se pensássemos na saúde do nosso planeta e no futuro da nossa civilização, mas ainda nesta década, se formos minimamente racionais.

Mas o que fazer enquanto aguardamos essa nova legislação que obrigará o setor a mudanças tecnológicas importantes. Vejo uma saída interessante que o mercado já conhece: a certificação dos nossos edifícios. A certificação LEED já está consolidada no segmento dos edifícios corporativos triple A e o Brasil é um dos países com maior número de edifícios certificados pelo GBC (Green Building Council) e começa, de uma forma bastante sólida, a certificação de edifícios residenciais. Algumas incorporadoras já lançaram edifícios com a certificação AQUA, que parece estar se consolidando no mercado brasileiro como a mais adequada para a nossa realidade. Parece um passo muito discreto na luta contra o aquecimento global, mas é muito melhor do que a omissão. Por outro lado, estou convencido que o mercado comprador começa a despertar para esse tema, a importância de se premiar empresas comprometidas com o futuro das cidades onde vivemos.

É claro que a maior parte dos compradores de apartamentos não dá valor para a certificação e essa situação só será alterada com informação clara e abundante sobre as vantagens econômicas de um imóvel “sustentável”. Não acredito que campanhas com motivação moral possam fazer muito efeito, mas acredito que se as pessoas souberem, que comprando um imóvel certificado gastarão menos na sua operação e manutenção e terão, provavelmente, um maior preço em uma eventual revenda, levarão isso em conta na sua decisão de compra.

As entidades de classe do setor SECOVI, SINDUSCON e ABRAINC deveriam considerar a possibilidade de promover campanhas educacionais para todos os seus públicos, contribuindo assim para a construção de ambientes mais sustentáveis para os nossos clientes atuais e futuros.




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