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Adolescentes buscam saídas arriscadas contra o vazio e o tédio que sentem

Roseli Sayão
19/04/2017



A força dos pensamentos e das palavras tem de ser utilizada para o bem. A esperança deve se fundamentar sobre propósitos benéficos. A adolescência é a fase mais importante da vida, pois nela se define o preparo para o futuro do indivíduo e da humanidade. Mas não está sendo tratada adequadamente pela sociedade. Abdruschin (Mensagem do Graal, O ser humano e seu livre arbítrio) explica a importância dessa fase quando o espírito é ligado à força sexual para atuar na matéria, os anos melancólicos e sonhadores da juventude pressentindo a dor do mundo e um impulso poderoso para cima, para o que é ideal, belo e puro, que na atual situação é empurrado para o que é baixo. (Benedicto Ismael Camargo Dutra)

Faz algum tempo que tenho conversado com jovens para tentar entender por que é tão grande o número dos que se sentem desencantados com a vida, sem ânimo e, acima de tudo, entediados e vazios.
 
Um dos motivos que percebi nas conversas foi o fato de a escola e os estudos parecem ser o único objetivo, na visão dos pais e de outros adultos, da vida dos adolescentes. E mais: a meta é uma boa classificação em exames e vestibulares.
 
A vida, para esses jovens, tornou-se monotemática. O tempo todo os pais recomendam que estudem, cada um de seus professores fala diariamente dos exames que farão etc.
 
Outro fator que promove a maior pressão neles é a escolha do curso universitário. Eles ouviram que é muito cedo para escolher algo que farão para o resto de suas vidas, e se convenceram disso. Não é cedo e nem precisarão repetir as mesmas coisas sempre: toda profissão tem grande potencial de diversificação no mundo atual. Mas, nessa busca e com essas premissas, essa escolha torna-se quase impossível para eles: como encontrar uma profissão que os deixe apaixonados –agora é moda dizer que é preciso ter paixão pelo trabalho–, que o mercado valorize e que ofereça excelentes salários?
 
Os diálogos com os adultos também são pouco estimulantes para eles, que não se sentem levados a sério por seus interlocutores principais, pais e professores. Quase todos disseram ouvir "sermão" deles quase todos os dias, e estão tão cansados do mesmo blá-blá-blá de sempre, que nem ouvem mais. Os argumentos que eles têm quando discutem a vida em sociedade, a política, a ética, a religião etc. são, em geral, considerados bobagens pelos pais.
 
Acontece que o adolescente precisa de diálogos com adultos para que consiga se entender melhor –mesmo quando diz bobagens– e para construir seus próprios valores. Vamos lembrar que a adolescência é o período em que os mais novos se preparam para se tornar seus próprios pais. Sem diálogos e exemplos por parte dos adultos, isso é missão impossível.
 
Claro que os jovens buscam alternativas para sair desse tédio, e eles encontram, principalmente em alguns caminhos bem arriscados.
 
Muitos se entregam às redes sociais e aos jogos: usam a cada dez minutos e ficam tão absorvidos que se esquecem do tédio que, claro, retorna assim que eles escapam de suas malhas.
 
Outros, escolhem ir à baladas e ingerir drogas –lícitas e/ou ilícitas– para encontrar euforia, se desinibir, essas coisas. E sexo, é claro.
 
E há também os que decidem desafiar a morte. Creio que quase todo mundo já ouviu falar do "jogo da asfixia", ou do sufocamento. Pode ser –e já foi– fatal.
 
E agora há uma nova modalidade de aventura radical praticada em outros países, que não sei se já chegou ao Brasil. Mas chegará, já que a internet conecta esses adolescentes em busca de adrenalina, como eles dizem. Nessa prática, chamada "extreme building climber", os adolescentes escalam as mais altas construções da cidade para caminhar e se pendurar nos locais mais perigosos delas. Pode ser –e já foi– fatal.
 
Será que não podemos desafiá-los para que se desenvolvam, amadureçam e, acima de tudo, amem a vida? Podemos, sim!
 
Basta começar a ouvi-los, colaborar para que se entendam e que coloquem em ato seu potencial criativo para beneficiar o coletivo, e não apenas a si mesmos.

Artigo publicado no Jornal Folha de São Paulo, em 28 de Março de 2017.
 



ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)
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