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Escassez

Benedicto Ismael C. Dutra
21/01/2018



Não se empolgue com a abundância. Nem se assuste com a escassez. Tenha sempre clareza no pensar e ação para seguir em frente e progredir. Leia abaixo a crítica ao livro que fala sobre esse tema feita por Filipe Oliveira e publicada na editoria Mercado do jornal Folha de São Paulo

 
 Depois de semanas de pouca inspiração e muita enrolação, chega a véspera de entregar o trabalho há muito encomendado. A partir daí, um surto de produtividade entra em cena e todas as dificuldades desaparecem. A experiência, tão corriqueira para muitos, é um dos temas discutidos pelos professores Eldar Shafir e Sendhil Mullainathan (de Harvard e Princeton, nos EUA, respectivamente) no livro "Escassez".

A obra desvenda os efeitos comportamentais causados pela falta de recursos, entre eles tempo, dinheiro, comida e relacionamentos. Os autores baseiam suas conclusões em uma série de experimentos científicos. Vão costurando suas teses com algumas questões cotidianas e outras de grande impacto.
 
A escassez de qualquer recurso, aponta o livro, cria uma mentalidade que, à primeira vista, parece positiva. Testes mostram que somos mais produtivos quando o prazo está chegando ao fim e quem tem o dinheiro curto sabe melhor o preço das coisas. Porém a questão é mais complexa. Quem vivencia situações de escassez tem sua mente aprisionada por aquilo que está faltando.
 
Quando se coloca um grupo de pessoas para ver uma série de palavras em alta velocidade e tentar identificá-las, quem está de dieta tem mais facilidade para ver nomes de comida; solitários têm mais facilidade para entender expressões faciais. Shafir e Mullainathan usam uma metáfora para explicar sua tese: quando se vivencia a escassez, entra-se em um túnel. Toda a atenção é dirigida a apenas um tema e negligencia-se o que é importante, mas não urgente.
 
Um exemplo: a escassez de tempo que bombeiros enfrentam para lidar com emergências faz com que as estatísticas de morte desses profissionais em serviço por falta de uso de cinto de segurança sejam alarmantes, afirmam os autores.
 
Pobreza
 
Shafir e Mullainathan mostram que plantadores de cana na Índia se saem melhor em testes de QI logo após a colheita, quando estão com mais dinheiro, do que quando a colheita está longe e a situação financeira é pior. Isso adiciona um grau de dificuldade maior à vida na pobreza. Por estarem sempre sob efeitos psicológicos nefastos da falta de dinheiro, os mais pobres têm parte de seu potencial reduzido por viverem dentro do túnel. É mais difícil para eles criar hábitos importantes, como tomar remédios periódicos ou aprender algo novo (mesmo que sem ter de gastar nada), afirmam os autores.
 
Uma vez instaurada a mentalidade da escassez, seus efeitos bons e ruins não podem ser evitados, mesmo que se esteja consciente de que se está no túnel, afirmam Shafir e Mullainathan. Sem uma lista de saídas milagrosas, os autores oferecem sugestões para a questão. A primeira delas é administrar melhor a abundância. É possível se preparar para entrar no túnel ou criar lembretes que chamam a atenção de quem está dentro dele. 
 
Uma forma simples de não esquecer de pagar as contas quando se sabe que a agenda será apertada é deixar os pagamentos em débito automático, por exemplo. Outras ideias dos autores são mais ambiciosas, como modificar o funcionamento dos programas de microcrédito para populações de países pobres. Eles sugerem que sejam criadas linhas de crédito de curtíssimo prazo e valor baixo, com o objetivo de diminuir o impacto de pequenas emergências financeiras sobre os mais pobres. Além de afugentar agiotas, diminuiria as entradas no túnel.
 
Excesso
 
Por ironia, e devido à grande variedade de assuntos que trata, "Escassez" é uma obra que sofre de excesso. As passagens frequentes de temas banais, como entrega de trabalho na faculdade, para discussões sobre como enfrentar a lotação em um centro cirúrgico ou a pobreza formam um conjunto irregular, que traz tanto obviedades como conclusões inusitadas e interessantes. De leitura fácil, pode ser um bom ponto de partida para obras que aprofundem suas teorias e possíveis aplicações.

Serviço:
Livro: Escassez
Autores: Sendhil Mullainathan e Eldar Shafir
Editora: Best Business
Preço sugerido: R$ 44,90 (384 págs.)
 



Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini e é associado ao Rotary Club de São Paulo. É articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros: “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”;“2012...e depois?”;“Desenvolvimento Humano”; “O Homem Sábio e os Jovens” ,“A trajetória do ser humano na Terra – em busca da verdade e da felicidade”; e “O segredo de Darwin - Uma aventura em busca da origem da vida”(Madras Editora). E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7
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