O artigo publicado no site
mises.org.br faz uma análise coerente da série original
O Mecanismo, exibida pela Netflix. O agigantamento do Estado acoberta muitos interesses particulares. A governança perde a seriedade beneficiando uns em prejuízo de outros, mantendo o atraso do país. A classe política surfa na maré de levar vantagens também buscando auferir proveitos, lançando mão do jeito que pode. Mas estamos adentrando numa fase em que tudo vem à tona rapidamente, desorganizando os esquemas, estagnando a economia.
Veja um trecho do texto:
O cineasta José Padilha identificou bem a essência de como funciona o Mecanismo, mas, talvez por querer posar de isento, disse que o Mecanismo existe à revelia da ideologia. Errado. Muito pelo contrário: o que possibilita a existência e a robustez do Mecanismo é exatamente a ideologia.
Qual ideologia?
Aquela que defende a concentração de poderes políticos e econômicos nas mãos de quem controla o Estado.
O Mecanismo só existe porque há uma ideologia explícita que o sustenta: a defesa de um estado grande, onipresente, intervencionista, ultrarregulador, que em tudo intervém e de todos cuida.
Enquanto houver, de um lado, um governo grande, com um farto orçamento público repleto de emendas e brechas, sempre haverá, do outro lado, grupos de interesse poderosos e bem organizados que irão se beneficiar deste orçamento público.
E esses grupos terão todo o interesse em fazer com que este orçamento cresça cada vez mais, pois são os beneficiários diretos deste aumento dos gastos.
Um Estado grande sempre acaba se convertendo em um instrumento de redistribuição de riqueza. A riqueza é confiscada dos grupos sociais desorganizados (os pagadores de impostos) e direcionada para os grupos sociais organizados (lobbies, grupos de interesse e grandes empresários com conexões políticas).
A crescente concentração de poder nas mãos do Estado faz com que este se converta em um instrumento muito apetitoso para todos aqueles que saibam como manuseá-lo para seu benefício privado.
A elevação avassaladora da carga tributária é a expressão desse Mecanismo. Só é possível enriquecer e manter-se rico quem tem acesso ao grande ‘excedente’ retido nas mãos do estado. A grande massa de tributos arrecadados garante que a riqueza de cada um dependa da boa vontade da burocracia e da “vontade política”.
Consequentemente, todos querem ter um “negócio” com o Estado. Tudo depende do Estado e é por ele intermediado. Nada fora do Estado - é essa a lógica do Mecanismo.
Enquanto a ideologia dominante no Brasil for a da defesa de um Estado agigantado e onipresente, o Mecanismo permanecerá robusto. Quem defende Estado grande e intervencionista defende o Mecanismo.