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A globalização e a China

Benedicto Ismael C. Dutra
15/10/2019



 A abertura atabalhoada das fronteiras comercial e financeira foi como um salto no escuro. As consequências hoje estão nitidamente visíveis. As novas gerações foram conduzidas para uma forma de pensar indiferente quanto ao futuro; não sentem a necessidade de pensar no amanhã, vivem o hoje de forma descomprometida, temerosas do que está por vir no mundo do trabalho. Percebem que a construção feia e áspera feita pelo homem de raciocínio preso ao tempo e espaço está em processo de desmanche.

Em 1949, há setenta anos, Mao Tse-tung fundou a República Popular Chinesa, um fracasso econômico e social sob o comando do Partido Comunista. O livro vermelho, com os postulados ideológicos de Mao Tse-tung, foi a fonte onde muitos descontentes foram beber nos anos 1960, mas a China não alcançou êxito. Nixon, então presidente norte-americano, buscou naquele país um contrapeso frente à Rússia. Deng Xiaoping, que liderou a China entre 1978 e 1992, entendeu que o mundo era comandado pelo dólar e então promoveu reformas econômicas para produzir muito e se integrar no mundo capitalista com governo forte, como se fosse uma grande empresa disposta a produzir de tudo com seu estoque de mão de obra ociosa, e foi bem-sucedido.

O comunismo já era, os homens que cobiçavam o poder perceberam que tudo gira em torno do dinheiro, então procuraram a forma de alcançar acumulação do capital financeiro e, para isso, teriam de se adaptar ao sistema capitalista. Assim, aos poucos foi surgindo o capitalismo de estado, empenhado em produzir manufaturas de baixo preço para exportar. A globalização, abrindo as fronteiras do comércio, foi fundamental para que tivesse início uma nova fase do capitalismo, o que gerou consequências de longo alcance. Enquanto isso, o neoliberalismo ia se concentrando nas finanças globais, sempre buscando o ganho financeiro como prioridade, deixando de lado a produção. No Brasil e no ocidente, a produção industrial caiu muito. Agora o mundo enfrenta a falta de empregos, precarização e queda no consumo, gerando maré alta de insatisfações. O avanço da precarização geral poderá levar ao recrudescimento do rancor e a atos agressivos.

Os homens são dotados de livre resolução. Quando escolhem produzir na Ásia com mão de obra menos custosa, não se preocupam com o que vai acontecer com os outros trabalhadores. O direito à propriedade faz parte das leis da vida. Já o açambarcamento das riquezas da natureza é fruto da cobiça egoística, o que se torna bem evidente no capitalismo. No socialismo, por sua vez, as intenções dos mandantes ficam acobertadas por uma cortina de “bondades” às custas do estado com dinheiro público para sustentar a máquina cara. O certo seriam os programas de participação nos lucros das empresas como forma geral de redistribuir os frutos do trabalho, coibindo-se ações especulativas e espoliativas. Com as inovações surgidas na estrutura de produção global, ocorreu baixa na competitividade. O desafio é ter preço compatível com o poder aquisitivo nesta época de vacas magras, pois a concorrência global é feroz e nem sempre leal.

Os juros altos e câmbio valorizado são do passado, mas fincaram suas garras e deixaram marcas profundas, afetando todas as atividades. Soma-se à incompetência dos gestores, a visão desanimada de muitos empreendedores locais, a desesperança geral, resultando num país estagnado e entorpecido. Como despertar e reanimar o Brasil pujante? Não adianta estimular a demanda artificialmente. Por que o Brasil e o mundo ficaram nessa complicada situação econômica e social? A construção dos homens desmorona pela falta de sinceridade e de comprometimento com o bem geral, o que levou a esse caos, ameaçando o futuro.

É necessário o apoio da imprensa na educação das novas gerações. A programação das TVs é uma lástima. Precisamos de gerações fortes bem preparadas que reconheçam a importância de estar vivendo no Brasil e se preocupem com o país. Os aglomerados de moradias precárias permanecem crescendo, a decadência também. Homens e mulheres estão gerando filhos sem estarem preparados. Os empresários e toda a sociedade precisam zelar pelo país. A coesão social perdeu espaço no mundo apressado que perdeu a consciência ancestral, isto é, o saber da origem e significado da vida.
 



Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini e é associado ao Rotary Club de São Paulo. É articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros: “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”;“2012...e depois?”;“Desenvolvimento Humano”; “O Homem Sábio e os Jovens” ,“A trajetória do ser humano na Terra – em busca da verdade e da felicidade”; e “O segredo de Darwin - Uma aventura em busca da origem da vida”(Madras Editora). E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7
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