Desde que entramos nesses tempos de pandemia, que venho matutando com meus botões. Percebi que esse vírus nos precipitou bruscamente numa espécie de inverno social. O inverno é o tempo em que a natureza se recolhe, hiberna, se encasula, volta para si mesma, em uma sábia espera de que o clima se torne novamente propício para a expansão.
O gênero humano foi obrigado a se encapsular contra sua vontade. Foi obrigado a se recolher dentro de seus casulos/casas, sob pena de não sobreviver à nevasca em forma de contágios virais que se formou lá fora. Dentro de casa fomos forçados a um olhar mais demorado em direção àqueles que convivem conosco. Relacionamentos recentes, ou de longos anos, se viram desnudos pela convivência constante e de tempo integral.
E descobrimos defeitos e virtudes em quem está ao nosso lado, e que muitas vezes são, na verdade, reflexos de nossos próprios defeitos e virtudes. Houve quem cortou, e houve quem aprofundou laços emocionais e afetivos. E também houve quem mergulhou dentro de si mesmo para encontrar respostas para tantas perguntas que se formaram.
Por que fomos repentinamente freados em nosso cotidiano corre-corre, onde nossa atenção era dirigida quase que exclusivamente ao mundo externo?
Por que muitos foram obrigados a se distanciar das pessoas amadas, enquanto outros nem tiveram a chance de se despedir daqueles que lhes eram caros?
A verdade é que um pequeno ser invisível escancarou toda nossa fragilidade e despreparo. Onde está a poderosa raça humana que fabricou modernos equipamentos para explorar o Universo, mas que sucumbe a um vírus que derrota sem piedade sistemas imunológicos de idosos e jovens; de ricos e pobres; de instruídos e de analfabetos?
Não, o inverno social não se abateu sobre nós por mero acaso. E quem não aproveitar esse momento para reflexão terá deixado passar um desses raros momentos em que algo instiga a humanidade a repensar seu modo de viver.
Nunca a vida foi tão preciosa. E nunca foi tão necessário lembrar Daquele que nos presenteou com ela. Se vamos sobreviver à pandemia (e vamos), que seja com ganhos.
E ganhar, nesse momento, significa compreender que estamos atravessando um tempo de difíceis provas, que cobra fortalecimento moral, emocional, e principalmente, espiritual.
A oportunidade agora é que aproveitemos o tempo da melhor forma possível dentro do casulo, para que quando o verão social retornar, possamos sair transformados em belas e livres borboletas, prontas para alcançar inéditos e fascinantes voos.
E que nossa metamorfose seja de hábitos, valores e crenças.
Artigo escrito por Bernardete Ribeiro