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A PERFEITA ALEGRIA

Robson Santarém
31/03/2011



“A competição é antisocial. A competição, como uma atividade humana, implica na negação do outro, fechando seu domínio de existência no domínio da competição. A competição nega o amor. Membros das culturas modernas prezam a competição como uma fonte de progresso. [...] A origem do homo sapiens não se deu através da competição, mas sim por meio da cooperação, e a cooperação só pode se dar como atividade espontânea através da aceitação mútua, isto é, através do amor”. (Maturana)

A proposta desse livro é ver a perfeita alegria relacionada com o ambiente das organizações, das empresas, das instituições, enfim, o que se costuma chamar de mundo corporativo.

Sabemos que o sistema de algum modo condiciona o comporta­mento e molda o caráter. No sistema vigente, percebemos que o caráter tem sido modelado com cores e formas mais individualistas, materia­listas e competitivas do que tonalidades cooperativas e com o sentido do bem comum. Desse modo, observa-se nesse contexto que o valor da pessoa está mais no ter ou no parecer ter. A competição – que a cada dia se eleva e desumaniza – passou a ser virtude. Utiliza-se naturalmente no dia a dia do mundo dos negócios expressões de guerra; "atitudes, estratégias e políticas agressivas" demonstrando, muitas vezes, quais são os reais valores que definem tais condutas. Não obstante haver um discurso sobre a importância da ética percebe-se, não raro, que esta tem contornos utilitaristas. Essas crenças se tornaram tão fortes e hegemônicas que se acredita não haver outra possibilidade de viver, posto tratar-se da realização da natureza humana. (Ignora‑se – inconsciente ou propositadamente – que também é da natureza humana realizar as potencialidades do ser: a fraternidade, a solidariedade, a cooperação, a partilha.)

Novos paradigmas e espiritualidade nas empresas

É inegável que a cultura de modo geral e, especificamente, as corporações têm uma grande responsabilidade sobre tudo isso. Refiro-me aos dirigentes do mundo corporativo, visto que as orga­nizações são constituídas por pessoas. As organizações empresariais têm um papel que transcende a geração de lucros com seu negócio. Elas influem na política, na economia e no desenvolvimento sociocultural e ambiental de qualquer lugar do planeta. Desse modo, a forma de gerenciar pode fazer não só com que as pessoas e as empresas sejam melhores, mas também que o mundo seja melhor.

No entanto, não basta olhar apenas o aspecto da responsabilidade pessoal dos gestores, porque a estrutura está contaminada por um modelo mental perverso que, de alguma maneira, determina o comportamento das pessoas.

O paradigma presente nas empresas, na mentalidade de muitas lideranças, age como um vírus que devasta as possibilidades de vida. Se não eliminarmos o vírus – o modelo mental – não teremos muita esperança de viver ou legar para as novas gerações um mundo novo.

O modelo da competição que está impregnado em todos e, particularmente, na educação e nas empresas tem provocado exclusões, baixa autoestima de muitos, injustiças e desrespeito e transgressão dos valores éticos, e elevado o individualismo a um patamar nos últimos tempos que, se não for alterado, nem as organizações sobreviverão. Há muitas empresas e pessoas que já morreram vítimas do próprio veneno.

O progresso material, a tecnociência e os valores econômicos foram colocados acima de tudo e em nome destes "deuses" muitos males têm sido causados. Não se nega a importância da tecnologia e de todo o progresso; o que preocupa é quem são os beneficiários deste progresso; o que se questiona é o modelo reducionista que limita a inclusão dos demais valores da vida, como a ética, a espiritualidade, a justiça e o bem comum.

Nesse modelo, as lideranças são estimuladas a um comportamento, mentalidade e linguagem agressivas e, ao mesmo tempo, esperam com isso obter resultados esplêndidos com equipes de alta performance. Esta lógica é no mínimo paradoxal, porque se o outro é visto como adversário, se se estimula a rivalidade e a competição, como obter união, parceria, confiança e alto desempenho?

Como abrir espaço para a fraternidade, para a ternura, para a cooperação e perfeita alegria se o que comanda tudo é o egocentrismo, o materialismo, a produtividade a qualquer preço e o consumismo?

Pode ser que as empresas obtenham, a curto prazo, o tão desejado lucro financeiro; porém, a longo prazo a falta de visão, a indiferença aos valores universais, a prática da injustiça e o desrespeito à vida, ao planeta e à dignidade do trabalhador não lhes proporcionarão vida longa.

O mundo corporativo tem criado uma imagem própria que não é das melhores, visto que boa parte das empresas tem aparecido como local de exploração e alienação humana, origem dos males ambientais, centro de subornos e corrupções em busca de vantagens e lucros maiores.

Tudo isso se assenta, como já foi mencionado e estudado por grandes pensadores, em um paradigma analítico que é fragmentador e reducionista, e que impede de enxergar o inter-relacionamento de todas as coisas e a necessária cooperação de tudo e todos para o bem comum. Quando adotamos – consciente ou inconscientemente – a visão míope do paradigma mecanicista – simplificador – não enxergamos os contextos, pensamos somente no curtoprazo e nos interesses egoístas, perdemos de vista o essencial, transformamos seres humanos em meros recursos e afugentamos a ética que nos convoca a vivermos de maneira consciente, responsável e solidária.

Editora Vozes – 2010



Robson Santarém é Administrador especializado em Recursos Humanos, Mestre em Ciências Pedagógicas, pós-graduado em Psicologia Junguiana. http://www.abrhrj.org.br/typo/index.php?id=508
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