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NÃO FAZ NENHUM SENTIDO

Benjamin Steinbruch
20/06/2011



Para ter uma ideia do estrago que os juros fazem nos cofres públicos, basta lembrar que nos 12 meses encerrados em abril essa conta representou R$ 214 bilhões.

Seguem quatro notícias dos últimos dias. Elas são muito relevantes e não podem ser ignoradas. Demonstram o acerto na previsão do ministro Guido Mantega e do presidente do BC, Alexandre Tombini, com os números da economia.

A primeira diz que o PIB cresceu 1,3% no primeiro trimestre, mas esse ritmo é passado. Em abril, a produção industrial caiu 2,1% (maior queda em 40 meses). Entre os setores mais atingidos, chamou a atenção o recuo de 2,9% na produção de máquinas e de equipamentos, um indicador preocupante, porque tem a ver com investimentos produtivos.

A segunda notícia informa que a União, os Estados e os municípios conseguiram obter superávit primário de R$ 57,3 bilhões no primeiro quadrimestre, atingindo quase a metade da meta fiscal estabelecida para todo o ano, de R$ 117 bilhões.

Esse superávit representa a economia que o setor público conseguiu fazer de janeiro a abril para pagar os juros da dívida trilionária.

A terceira revela que o índice de confiança dos industriais caiu pelo quinto mês seguido. Esse indicador antecedente, da FGV, mostra que a atividade da indústria brasileira, pela expectativa das empresas, deve esfriar mais nos próximos meses.

A quarta notícia é sobre preços. O IGP-M, primeiro índice da inflação de maio já divulgado, recuou para 0,43%, depois de ter atingido picos de 1,45% em novembro e de 1% em fevereiro. No atacado (IPA-M), a variação de preços foi zero no mês passado. O IPCA, índice oficial da inflação, que será divulgado nesta semana, havia subido para o nível próximo de 0,8% entre janeiro e abril e deve ter baixado para cerca de 0,5% em maio, segundo as previsões.

Essas quatro informações nos dizem, em resumo, que a economia está desaquecendo rapidamente e vai desaquecer ainda mais nos próximos meses; que a contenção de gastos do setor público vai bem e que não há o decantado descontrole fiscal; e que a inflação está em queda.

Juntam-se a esse cenário as péssimas previsões para a economia mundial, que vive um novo momento de desaquecimento na Europa, nos EUA e nos países emergentes, incluindo China e Índia.

Olhando para isso tudo, não faz nenhum sentido a quinta informação, também frequente no noticiário econômico, que dá como certa a alta da Selic, amanhã, em 0,25 ponto percentual, de 12% para 12,25% ao ano. É no mínimo inoportuno que, em nome de um teórico objetivo de trazer a inflação para a meta no fim de 2012, a taxa básica de juros seja novamente elevada.

Isso vai complicar ainda mais a desastrosa derrocada da taxa cambial. O dólar derrete a olhos vistos à medida que mais e mais recursos estrangeiros entram no país para obter os ganhos apetitosos proporcionados pela remuneração de títulos públicos – enquanto os títulos do governo americano pagam 3% ao ano, os do Brasil oferecem 12%.

No outro lado do balcão está o Tesouro Nacional, que paga a conta dos juros desses papéis. Só no primeiro quadrimestre, os gastos com os juros alcançaram R$ 78 bilhões, consumindo todo o superávit primário e deixando déficit nominal de R$ 20 bilhões. Para ter uma ideia do estrago que os juros fazem nos cofres públicos, basta lembrar que nos 12 meses encerrados em abril essa conta representou R$ 214 bilhões.

É bom lembrar também que a progressiva e persistente valorização do real em relação ao dólar é uma das causas da redução da confiança da indústria. É cada vez mais difícil competir com itens importados, que ficam mais baratos à medida que o dólar perde valor.

Defensores da continuidade do arrocho monetário observam que ele só poderá terminar no momento em que for atingido o mercado de trabalho. Os últimos dados do Ministério do Trabalho mostram que ainda houve contratações de 272 mil pessoas com carteira assinada em abril e que, em maio, o número deve ser até maior.

Isso é mau sinal, dizem os defensores do arrocho, porque a continuidade do aumento dos empregos provoca altas da renda e do consumo e, mais à frente, da inflação. Ou seja, por esse raciocínio, só estaremos felizes e seguros quando começar a voltar a ameaça do desemprego. Isso não faz nenhum sentido.

Publicado na Folha de S. Paulo.



Benjamin Steinbruch, ex-conselheiro do CDES, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp.
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