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COMO FAZER INIMIGOS & AFASTAR PESSOAS


23/06/2011



Atenção: Reproduzir essas ideias em público pode acarretar o afastamento de pessoas e o ganho de inimigos, consequências de total e irrestrita responsabilidade do leitor. Essas palavras constam da 4ª capa do livro Como Fazer Inimigos e Afastar Pessoas, de autoria do professor Thomas Wood Jr., lançado pela Editora Livros de Safra. Esperamos que isso não aconteça, pois não podemos deixar de compartilhar de notáveis ideias como as constantes do capítulo Pulmões e Cérebros:

O fumo está para o pulmão assim como a TV está para o cérebro.
A batalha contra o fumo está em estágio avançado.
A luta contra a TV está apenas começando.

Estima-se que haja no mundo mais de um bilhão de fumantes. Cinco milhões de indivíduos morrem por ano por causas relacionadas ao tabaco. Nos anos 1940, o cigarro ganhou glamour, com uma ajuda providencial do cinema e tornou-se produto de massa. Na década de 1950, surgiram os primeiros estudos relacionando tabaco e câncer de pulmão. Os fabricantes reagiram com um intenso esforço de lobby e relações públicas. Nas décadas seguintes, o embate se intensificou. Nos países desenvolvidos cresceu o cerco aos fumantes e o vício passou a ser estigmatizado. Além do mal causado a si mesmo, o fumante socializa o prejuízo com seus pares – os fumantes passivos – e com o sistema de saúde. Todos pagamos por seu duvidoso prazer. Entretanto, apesar do esforço de ativistas e legisladores, a indústria do tabaco continua crescendo, especialmente nos países em desenvolvimento, o que reflete o poder das corporações envolvidas tanto quanto a ignorância e a incivilidade dos fumantes.

O cigarro atinge o pulmão. A TV atinge o cérebro. Não são poucas as similaridades entre as duas pragas: ambos são fenômenos de massa, de escala mundial; ambos têm efeitos danosos conhecidos; ambos envolvem grandes interesses econômicos; ambos são associados ao lazer e ao prazer; e ambos controlam lobbies poderosos. A TV atinge praticamente toda a população da Terra, é fonte de poder e influência, constitui moeda de troca em barganhas políticas e emprega certa classe artística, muito hábil e criativa na defesa de seus interesses.

Ativistas anti-TV não se costumam iludir. Eles conhecem o monstrengo que enfrentam e são modestos em suas expectativas. Em lugar de propor banir, o que só um improvável surto de iluminação e civilidade poderia viabilizar, eles buscam objetivos mais realistas, tais como coibir o abuso na publicidade e controlar as horas de exposição de crianças ao efeito hipnótico do lixo eletrônico. Quem se dispuser a realizar uma pesquisa em periódicos científicos acerca da influência da TV sobre crianças e adolescentes encontrará um quadro alarmante: a maioria esmagadora dos artigos trata de impactos negativos do meio sobre a sociabilidade, os comportamentos, o desempenho escolar e a alimentação.

Em um estudo pioneiro publicado na década de 1970 no Journal of Communication, Patricia Edgar, uma especialista australiana, pesquisou 296 famílias. Suas conclusões foram expressivas. O grupo estudado constituía uma elite econômica e cultural: os adultos eram mais escolarizados e ganhavam mais do que a média da população. Mais de 90% eram membros de clubes e outras organizações e 96% afirmavam ter muitos livros em casa. Mais de 40% tocavam instrumentos musicais e mais de 60% apreciavam música clássica. Quase todas as famílias justificavam sua opção por crer que o tempo deve ser ocupado com atividades mais nobres do que assistir à TV. Alguns dos entrevistados registraram o sentimento de frustração e inutilidade que sentiam quando passavam algum tempo na frente da pequena tela. Outros compararam a sensação de assistir TV ao consumo de drogas: a atividade reduz a sensibilidade e provoca uma preguiçosa inércia, além de restringir e condicionar a dinâmica familiar. Segundo os entrevistados, a vida comunitária estava se deteriorando e parte da responsabilidade era atribuída à TV: com menos tempo e disponibilidade para contato pessoal, os indivíduos estavam se tornando menos sensíveis aos problemas de seus vizinhos e menos inclinados a atuar em seu meio social.

Desde a década de 1970, muita coisa mudou (para pior): surgiram a TV shopping, a TV a cabo, a TV digital e os canais especializados. O poder de sedução aumentou. O escritor Gore Vidal, na pele da inesquecível personagem Myra Breckinridge, em livro dos anos 1960, descreve a primeira geração da TV como um ajuntamento de criaturas pálidas e desatentas, incapazes de enfrentar leituras mais complexas do que textos de tabloides e aptas a reagir somente ao ritmo frenético dos comerciais. As novas gerações são ainda mais pálidas e incapazes de articular ideias. Elas são conformistas, individualistas, avessas a esforços intelectuais, impacientes, culturalmente rasas e consumistas.  A TV certamente não é o único vilão, mas não se pode menosprezar sua capacidade de imbecilizar a audiência. Como registrou Sergio Augusto nas páginas da revista Bravo! de julho de 2001(*) “a TV não suporta conversa séria, profunda e consciente. Natural, portanto, que tudo nela descambe para o circo”. Na arquibancada, a plateia dócil e narcotizada grunhe, baba e ronca.

Como fazer amigos e afastar pessoas, como diz o autor, da mesma maneira que outros volumes que o antecederam, foi escrito para o leitor de tempo escasso, porém determinado a buscar conhecimento bem fundamentado. Os capítulos são curtos, mas escritos com base em pesquisas. Todos os textos foram norteados pelo dever e pelo prazer de exercer um olhar crítico sobre a vida executiva. Boa leitura!

(*) Veja reprodução da matéria de Sergio Augusto no website Digestivo Cultural: http://www.digestivocultural.com/ensaios.asp?codigo=21




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