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GLOBALIZAÇÃO E CONCENTRAÇÃO DE CAPITAIS

Antonio Corrêa de Lacerda
28/07/2011



Este cenário de hipercompetição entre grandes grupos econômicos impõe desafios para os países na formulação das políticas econômicas domésticas e para a regulação da concorrência.

A concentração de empresas é uma das faces mais controversas do capitalismo contemporâneo. A expressiva expansão da disponibilidade de recursos financeiros, intensificada na fase da chamada financeirização, ou globalização financeira, especialmente a partir das últimas décadas do século passado tem representado um desafio crescente.

Na medida em que os mercados financeiros se sofisticaram com a criação de novos produtos, como os derivativos, por exemplo, e se interligaram nas 24 horas do dia, isso propiciou uma fantástica alavancagem de recursos. Estima-se que o volume global de ativos financeiros, sem considerar os derivativos, represente mais de quatro vezes o PIB (Produto Interno Bruto) mundial. Ao mesmo tempo em que essa enorme liquidez aumentou o potencial de geração de crises, como as que se observou especialmente a partir dos anos 1990, também expandiu a disponibilidade de funding para as atividades produtivas: a expansão das empresas, do comércio internacional, da evolução tecnológica e das inovações.

As empresas intensificaram a sua atuação para fora das fronteiras dos seus países de origem, por meio dos investimentos diretos estrangeiros, cujos fluxos cresceram da média anual de US$ 200 bilhões, no inicio da década de 1990, para mais de US$ 1 trilhão, nos anos 2000. Isso também impulsionou as operações de fusões e aquisições mundo afora, que respondem por cerca de três quartos do volume de investimento no exterior.

Para fazer frente a esta crescente internacionalização, as empresas locais logo perceberam que se não adotassem uma estratégia ativa, elas seriam alvos fáceis de aquisição por parte de seus concorrentes mais robustos, agora fortalecidos pela expansão dos mercados de capitais. As empresas domésticas adotaram duas estratégias muito claras para ganhar economias de escala e competir neste novo cenário: primeiro adquirindo, ou se fundindo a outras empresas locais e, segundo, expandindo sua atuação no exterior.

Assim, o movimento de concentração de empresas se deu tanto de fora para dentro, com a intensificação dos capitais forâneos, mas também internamente, como mecanismo de defesa, e ainda, no exterior, com a internacionalização das suas filiais.

Este cenário de hipercompetição entre grandes grupos econômicos impõe desafios para os países na formulação das políticas econômicas domésticas e para a regulação da concorrência. Uma atitude passiva pode significar a completa desnacionalização de suas estruturas produtivas com evidentes perdas estratégicas. Os Estados Nacionais são mais fortes, na medida em que atuam em parceria com as empresas, como demonstram as experiências dos EUA, Japão, China, Coréia do Sul, dentre muitos outros.

Um outro dilema é garantir que o consumidor não seja prejudicado com a crescente concentração, pois se os órgãos de defesa da concorrência inviabilizarem as operações de fusões e aquisições poderão, por outro lado, condenar as empresas locais à extinção.

Para o Brasil, especialmente, o cenário imposto pela concentração globalizada dos capitais é um desafio ainda maior. Primeiro, porque nos falta uma clara estratégia integrada para fazer frente às novas circunstâncias e definir mais claramente o nosso papel nas grandes cadeias globais. Tenho dúvida se sequer estamos compreendendo a dimensão do problema. Segundo, e decorrente do primeiro, a valorização cambial, as desvantagens competitivas sistêmicas e a fragilidade das políticas de competitividade (políticas industrial, comercial e tecnológica) denota um quadro preocupante.

Até porque estas questões são muito mal compreendidas e maltratadas na opinião pública, e pelos Poderes. Falta-nos um Projeto, um rumo a ser seguido, que ultrapasse a excessiva fixação nos pseudo benefícios de curto prazo.

O risco implícito se traduz na crescente desnacionalização das bases produtivas, na desindustrialização precoce e na vulnerabilização das contas externas. Um cenário pouco propício para o desenvolvimento de longo prazo. Urge-nos, acordar e agir logo!

Fonte: Terra Magazine




Antonio Corrêa de Lacerda é professor-doutor do departamento de economia da PUC-SP e autor, entre outros livros, de "Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil" (Saraiva). Foi presidente do Cofecon e da SOBEET – alacerda@terra.com.br
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