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GUERRA CAMBIAL SERÁ MAIS SANGRENTA

Fábio Alves
27/08/2011



Para indiano, Brasil terá de adotar medidas adicionais de controle de capital e de estimulo à economia doméstica.

ENTREVISTA – Satyajit Das, economista, autor do best-seller "Traders, Guns & Money" – 12/08/2011

Se o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chamou de guerra cambial as ações dos governos mundiais que culminaram com um real sobrevalorizado, o que se verá no curto prazo será uma conflagração bem mais sangrenta, feroz e de custos elevados para os países exportadores de commodities, como o Brasil.

O alerta é do indiano Satyajit Das, 53 anos, autor de Traders, Guns & Money, o best-seller que elucidou os bastidores do mundo dos derivativos, muitos dos quais deram origem à bolha de crédito nos EUA. Das trabalhou por mais de 33 anos em grandes instituições financeiras internacionais, entre elas a Merrill Lynch e o Citicorp (antes da fusão com o Travelers Group, tornando-se Citigroup).

Na opinião de Das, o acirramento da guerra cambial virá dos EUA, por meio da desvalorização do dólar. E a desaceleração da maior economia global deve acabar com o "milagre" do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e, agora, também a África do Sul.

A seguir, trechos da entrevista concedida à Agência Estado.

Qual será o impacto sobre o Brasil de uma desaceleração econômica forte nos EUA e Europa?

O milagre dos Brics está chegando ao fim. O que as pessoas esquecem é que os Brics se beneficiaram do crescimento mundial para elevar suas exportações. Embora o Brasil tenha um mercado doméstico bem mais desenvolvido do que outros Brics, o País ainda depende muito do capital estrangeiro. A escassez do capital estrangeiro e a falta do crescimento das exportações por causa da desaceleração mundial vai afetar todos os Brics, embora de forma diferente. O Brasil, por sua vez, se beneficiou da injeção de liquidez em razão dos gastos orçamentários nos EUA nos últimos anos, mas isso também teve um lado nocivo: a baixa taxa de juros americana traduziu-se em pressões no câmbio e mais inflação. E os EUA vão sair dessa situação via desvalorização do dólar. E, se o seu ministro da Fazenda (Guido Mantega) já falou em guerra cambial, ele não viu nada: o que aconteceu foi apenas um prelúdio. Não chegamos ao primeiro ato dessa ópera. Vai acontecer ainda uma guerra cambial e comercial feroz. Será cada país por si.

Há como o Brasil evitar isso?

Não, porque vocês são uma nação exportadora muito grande. Sua economia foi desenhada ao redor do negócio de exportação de commodities, e vai crescer mais ainda como exportadora quando os campos de petróleo do pré-sal, como o Tupi, entrarem em operação.

E o real, que muitos dizem estar até 40% sobrevalorizado, continuará se valorizando?

Sim, absolutamente. O real vai continuar se fortalecendo porque não tem nada a ver com o real, e sim com a fraqueza do dólar. O Brasil mantém taxas de juros elevadas e o Federal Reserve (Fed) permanece injetando dinheiro no sistema financeiro para manter o dólar desvalorizado, pois é a única forma de os EUA pagarem sua dívida.

O Brasil tem sido agressivo no controle de capital estrangeiro. Isso deve ser reforçado?

Lógico, especialmente o de curto prazo. Nesse cenário que descrevo, os países precisam de controle de capital, de desenvolver a economia doméstica e de se certificar de que o envolvimento do capital estrangeiro seja bem controlado, pois o capital estrangeiro pode ser muito perigoso neste momento.

Os EUA resvalaram novamente para uma recessão?

Se os EUA estão ou não na chamada recessão técnica, ou seja, dois trimestres seguidos de desempenho econômico abaixo de zero, não quer dizer nada. O que está em jogo é o seguinte: se quisermos sair dessa situação de superendividamento mundial, é preciso um crescimento econômico forte e também de inflação, os quais não existem (nos países desenvolvidos).

Foi o rebaixamento da nota de risco soberano dos EUA pela S&P que provocou turbulência no mercado financeiro mundial?

A queda forte nos mercados não tem nada a ver com a S&P e o rebaixamento dos EUA. O fato é que as pessoas estão acordando para o fato de que o mundo tem muita dívida e desde a crise financeira de 2008 não foi feito nada para diminuí-la. O que os reguladores e as autoridades econômicas mundiais fizeram foi pôr "band-aid" num ferimento feito por bala de revólver. Eles injetaram mais dinheiro no sistema.

Fonte: INTELOG




Fábio Alves – O Estado de S. Paulo
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