“O ser humano usa o seu invólucro terreno, de que necessita para o amadurecimento de seu espírito na matéria grosseira, com irresponsável negligência e falta de compreensão. Enquanto não sente dores, negligencia a dádiva que com isso recebeu e nem pensa em dar ao corpo o que este necessita; antes de tudo, o que lhe é útil. Só presta atenção ao seu corpo sempre depois que o prejudicou, sentindo por isso dores; ou então quando por ele for impedido de alguma forma em seus trabalhos diários, na prática de tantos divertimentos ou passatempos”. (Na Luz da Verdade, Abdruschin)
Pesquisadores da Universidade Pace concluíram que usar piercing pode ser a maior furada — informa a rede de rádio e TV britânica BBC. Perfurar o corpo com objetos metálicos foi motivo de dor de cabeça para 20% dos jovens consultados. Publicado na revista Mayo Clinic Proceedings, o estudo aponta infecções, sangramentos e queloides como as complicações mais frequentes.
Aos que pensam que podem aplicar piercings sem sofrer um arranhão, os dados mostram que a falta de esterilização pode trazer sérias consequências, como o contágio com AIDS e hepatite B. Apesar de o questionário ter sido aplicado apenas a voluntários, o doutor Lestes Mayers considera que o uso indevido de piercings pode representar um alto custo ao sistema público de saúde.
O levantamento feito com 454 universitários de Pleasantville, estado de Nova Iorque, mostra que a maior parte dos rapazes (27%) prefere pôr um piercing na orelha. Entre as garotas (29%), o local favorito é o umbigo. A pesquisa revela um dado curioso: 23% dos estudantes eram tatuados, mas nenhum deles sofreu problemas decorrentes de tatuagens feitas com material inadequado.
Piercings na língua são os mais perigosos. Podem provocar infecções na gengiva, problemas respiratórios e até prejudicar a fala. No nariz e na parte superior da orelha, as contaminações ocorrem porque o tecido das cartilagens tem pouca irrigação. Isso dificulta a ação defensiva do organismo no combate aos micróbios. No caso das mucosas (lábios, língua e genitais), a umidade pode abrir caminho para a proliferação de fungos e bactérias. "No umbigo, as dobrinhas dificultam a higienização", explica a médica. Em tese, os estabelecimentos que fazem a colocação de piercing no Brasil deveriam atender aos parâmetros de higiene estabelecidos pela Vigilância Sanitária. Não é o que acontece. À falta de fiscalização, adeptos da moda tentam salvar a própria pele.
A munição de argumentos para quem se opõe ao uso de piercings por jovens não vem só da pacata Pleasantville. A prestigiosa Associação Médica Britânica também já se debruçou sobre o tema, indicando que cerca de um terço dos usuários de piercing apresenta sequelas. A divulgação desses malefícios já repercutiu no Brasil e está virando moda entre os parlamentares.
Pioneiríssima, a lei 9.828/97 proíbe, em todo o estado de São Paulo, que adolescentes com menos de 18 anos façam tatuagens e coloquem piercings. E, se depender do deputado paulista Neuton Lima (PFL), essa lei vai vigorar em todo o país. Para tanto, ele apresentou um projeto a ser analisado após o fim do recesso do Congresso Nacional. Segundo seus autores, as leis têm por objetivo preservar a integridade de crianças e jovens, protegida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O vereador Jair Cezar vai além. Para ele, piercings e tatuagens expõem os jovens não só a sofrimentos físicos e ameaças à saúde, mas também a "restrições sociais e do mercado de trabalho".
Já o advogado Walter Ceneviva acredita que as leis ferem os artigos 5, 226 e 227 da Constituição e o conceito de pátrio poder definido pelo ECA. Para ele, a lei é clara: cabe aos pais tanto a decisão sobre o que é melhor quanto a responsabilidade sobre os atos dos filhos, salvo em casos de exploração da criança ou de atos punidos por lei. E sugere aos pais que queiram permitir o uso de piercings que entrem com um mandado de segurança na Justiça.
Piercings e tatuagens podem trazer desvantagens na hora da conquista por uma vaga. De acordo com a consultora de RH do Grupo Catho, Gláucia Santos, isto acontece porque ainda existe uma ideia antiga de que o uso de piercings ou tatuagens está relacionado à marginalidade.
Forma implícita – Ainda de acordo com a consultora, existe uma discriminação no momento da entrevista, mas ela não é feita de maneira explícita. Isto significa que o selecionador não irá perguntar se a pessoa usa piercing ou tem tatuagem, mas se perceber, este candidato perde pontos. "Ter um piercing ou uma tatuagem quebra um pouco da formalidade de algumas situações em que é preciso ser formal. Num primeiro contato, ainda pode parecer que a pessoa é pouco madura", explicou Gláucia.
Áreas de atuação – A consultora ainda disse que este tipo de discriminação acontece em áreas em que o profissional terá contato direto com o público. Neste caso, incluem-se a administrativa, comercial e de bancos. "Imagine alguém com algo muito chamativo, como um cabelo colorido. Se tem contato com o cliente, perde a seriedade, imagem que tem que passar não somente para os colegas de trabalho", disse Gláucia.
Ela ainda explicou que existem profissões em que a aceitação do uso de piercings e tatuagens é mais flexível, como em comunicação e publicidade e propaganda, o que não acontece com os profissionais de direito e medicina.
Origem do piercing
Existe uma longa história sobre o body piercing e seus diversos significados por todo mundo. Historiadores afirmam que há mais de 2000 anos, alguns clãs e tribos já usavam apetrechos para furar a pele em cerimoniais carregados de simbolismos, com conotações espirituais, sexuais, estéticas e de rituais de passagem e costume.
A moda do piercing ganhou força com o movimento Hippie dos anos 60 e 70, conquistando jovens adeptos à prática do sadomasoquismo, que viram no adorno uma nova forma de exaltar o corpo e as suas zonas erógenas. Morris (1974) chama algumas áreas do corpo de “ecos genitais”, entre elas destacam-se: o umbigo, a boca e as orelhas, locais preferidos para o piercings. Neste caso serviriam para evidenciar a genitalidade do indivíduo, servindo como vitrine aos observadores e interessados.
Este movimento chegou à Inglaterra com o movimento Punk e nos Estado Unidos com o movimento gay nos anos 80 e 90, chamando a atenção de todo o planeta com o casamento entre o primitivo e o moderno.
Devemos sempre estar atentos às propostas de desconstrução sociocultural, sendo criteriosos e judiciosos na análise e adesão às novidades. E orientar os mais jovens quanto às intenções e efeitos dos novos comportamentos.
Fonte: Blog Psicologia e Sexualidade