O ser humano não é um robô constituído de peças descartáveis que possam ser trocadas ou doadas ao seu bel prazer. Ao contrário, é um maravilhoso organismo vivo que foi planejado para se autoconservar e regenerar automaticamente, desde que não tenha sofrido uma lesão profunda. É a vestimenta indispensável à peregrinação do espírito.
Por isso, vejo com certa apreensão o que ocorreu com a jovem Eloá, vítima do lamentável episódio de sequestro prolongado, praticado pelo ex-namorado Lidenberg, ocorrido na cidade de Santo André, no ABC paulista, e que comoveu o Brasil todo. É um triste atestado do nível de decadência a que chegou a humanidade do século XXI, cujas ações mostram-se completamente opostas às leis naturais.
É notório que o sequestro passional é o mais difícil de se lidar pelo estado de paranoia do sequestrador. Num ambiente menos dominado pela emoção, talvez os policiais pudessem encontrar alguma brecha para reverter a caótica situação. No entanto, a ação da polícia ficou muito prejudicada pela interferência da imprensa, da televisão e da própria população que contribuiu para agravar a situação através de sentimentos e pensamentos negativos. Foram energias que contribuíram para piorar a psique doentia do delinquente. Como em um espetáculo teatral de qualidade duvidosa, as pessoas acompanharam pela televisão a execução de cada ação da polícia e, aparentemente, atuaram como coadjuvantes naquele sórdido e macabro jogo sem volta.
Ao final a moça acabou tendo uma morte cruel após intermináveis horas de tortura e sofrimento. E como se isso tudo não bastasse, ainda foi vítima de outro golpe, ao ter seus órgãos extraídos sem que tivesse dado permissão, numa lamentável contravenção às leis naturais. A doação de órgãos é um tema controverso. Muitos apoiam essa prática por considerarem que se trata de uma forma de compaixão e de solidariedade a outro ser humano que poderá ter sua vida prolongada ao receber um coração, um rim, ou outro órgão para substituir o original doente.
Mas para pessoas espiritualizadas, a extração de órgãos no momento em que acabou de ocorrer o falecimento é uma transgressão às leis naturais da vida e ainda pode prejudicar o ser que está passando para uma outra dimensão da existência. Trata-se de um tema que precisaria ser melhor avaliado e discutido. No entanto, no caso específico da jovem Eloá, o sensacionalismo falou mais alto e inibiu qualquer possibilidade de reflexão equilibrada. Assim, a população, em sua ânsia por distração, aceitou passivamente atitudes contra a vida, na suposição de que os homens sempre sabem o que fazem, ignorando o fato de que sem o conhecimento das leis naturais, o que se faz, na verdade, é interferir desastrosamente na trajetória da existência.
Em um de seus livros, Roselis von Sass escreveu que ações de auxílio dirigidas contra as leis da natureza nunca poderão trazer bênçãos. São crimes e como tais têm em si o germe da morte. É importante que as pessoas se conscientizem que o corpo terreno não pode ser despedaçado depois da morte para reutilização de órgãos, pois isso se opõe às leis naturais da Criação. Tanto faz se a pessoa doou seus órgãos em vida, de forma consciente, ou se isso é feito pela família ou responsável após a sua morte. Transgressão é transgressão, não importa quem a tenha cometido, e isso não elimina as consequências tanto para o doador, como para aqueles que a promoveram. Eu, pessoalmente, não sou doador de órgãos, tenho isso registrado na minha cédula de indentidade e condeno essa prática mediante as explicações que ouvi de vários médicos sobre a violenta intervenção no corpo do recém falecido. E espero que a tragédia vivida pela jovem Eloá sirva ao menos para que mais pessoas reflitam sobre essa importante questão.