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NOVOS MODELOS PODEM NASCER DA CRISE RIO+20

Rui Falcão
19/07/2012



Quando o tema é sustentabilidade, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer, mas também já pode comemorar alguns feitos. Cresce a produção de energia renovável, diminuem as curvas de desmatamento e queimadas, linhas de créditos generosas são dedicadas à área. E o país ainda sai na frente com a “dádiva” do etanol.

Mas há muito a ser feito: “É preciso criar padrões mais claros e mais ambiciosos pactuados internacionalmente de forma que essas iniciativas não criem desequilíbrios competitivos, nem sejam usadas como forma de protecionismo”. Também “é importante que a liderança privada se engaje de uma forma proativa em articulação com o governo”. As afirmações foram feitas pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, na abertura da Conferência Internacional 2012 – “A Empresa e a Nova Economia. O que Muda com a Rio+20?” –, promovida pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social nesta semana, em São Paulo.

À frente do principal banco público de fomento, Coutinho afirma que “a expectativa é que a Rio+20 seja um grande passo adiante em termos de mobilização da sociedade, do setor privado e dos governos em direção a uma agenda mais ampla e mais consistente que associe desenvolvimento, inclusão social e produtiva, e sustentabilidade”. Mas também alerta para o perigo das ilusões em relação aos países pobres e em desenvolvimento. “É irrealista pensar que os países não devam se desenvolver. O desenvolvimento é necessário, o importante é não repetir o padrão altamente emissor de carbono. É preciso criar uma alternativa conciliadora”, diz.

Essas alternativas demandam energia mais eficiente, desenvolvimento na indústria de processos e produtos menos poluentes. “O Brasil tem conseguido redução nas curvas de desmatamento e queimadas, aumenta o consumo de energia renovável, mas é preciso ainda impulsionar os mecanismos de agricultura e manejo nas bordas das florestas”, afirma.

Os desdobramentos da crise econômica mundial também ganharam força no âmbito da discussão da agenda da sustentabilidade. “Acho que a crise internacional atrapalha porque os países, neste momento, estão focados em seu próprio problema de desemprego, desorganização fiscal”, diz o presidente do BNDES. “Mas, ao mesmo tempo, pode ser uma oportunidade se soubermos persuadir lideranças internacionais de que o investimento para o desenvolvimento social e ambientalmente sustentável deve ser um eixo para a saída da crise e recuperação das economia mundial. Talvez essa seja a proposta que devamos levar para a consideração dessa grande conferência”, avalia.

“O que está em crise é o modelo de desenvolvimento. Soluções paliativas de natureza financeira não resolvem, porque haverá um repique logo em seguida”, afirma Paulo Itacarambi, vice-presidente do Ethos e coordenador geral da conferência. “O modelo de desenvolvimento construído há tempos é insustentável e nessa crise se juntam várias crises. Não é só financeira, é também climática, de alimentação, é uma crise de energia. São várias crises juntas”, analisa. Sua sugestão é que todo recurso financeiro que circula no mundo em busca de rentabilidade busque rentabilidade na produção real em bases sustentáveis. “É preciso investir em bases que levem ao desenvolvimento sustentável, com menor impacto ambiental, com inclusão social e que a riqueza produzida seja distribuída entre todos.”

Na Rio+20, o Ethos apresentará dez propostas que vão da agricultura à energia, passando pela biodiversidade, clima, água, produção e consumo sustentável, cidades e pobreza. Uma delas prevê o compromisso dos países ricos com o financiamento do desenvolvimento sustentável. “Reivindicamos a criação de um fundo internacional que eleve a contribuição dos países desenvolvidos de 0,7% para 1,0% do PIB, acrescendo-se também recursos provenientes de direitos de uso dos espaços marítimo e aéreo, além de taxação de 0,05% sobre movimentações financeiras internacionais de caráter especulativo”, diz Itacarambi.

Na outra ponta, o Ethos também apresentará nove demandas. “Uma delas é que o governo utilize seu arsenal de tributos em geral para incentivar o desenvolvimento do setor privado para o caminho do desenvolvimento sustentável”, diz Itacarambi, ressaltando que na Europa há exigências crescentes e regulações, no uso de reciclados e redução de emissões, por exemplo. “O que estamos pleiteando é a generalização não só desse tipo de regulamentação, mas de incentivo para se colocar recursos para apoiar a pesquisa, o desenvolvimento e as novas tecnologias.”

Sérgio Mindlin, presidente do Conselho Deliberativo e sócio fundador do Instituto Ethos, chama a atenção para a limitação de recursos no planeta. “É preciso que os países meçam o desenvolvimento de outra forma. O limite ambiental do mundo não é só poluição, mas consumo de recursos. Não existe recurso suficiente para que todos consumam em um nível alto, o que torna necessário um repensar de como as coisas são produzidas”, diz. “É imprescindível que os produtos sejam recicláveis, reaproveitáveis, reutilizáveis, para que se possa ter um desenvolvimento em termos de qualidade de vida sem que necessariamente sejam consumidos mais recursos”, explica. Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Ethos, enxerga na Rio+20 o início de um novo processo de desenvolvimento sustentável. “Não vai ser um fim, mas um início. E nesse sentido, se nós tivermos essa expectativa, muita coisa nova vai surgir, dando diretrizes para que todos possamos atuar: governo, sociedade civil e empresas, no sentido de construir esse novo momento.”

Do Valor Econômico de 15/06/2012 para assinantes

Fonte: Rui Falcão



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