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VOCÊ SABE O QUE É ANDRAGOGIA?

Luiz Roberto G. Fava
27/02/2009



Quando crianças, nossa educação e nossa aprendizagem são feitas pelos nossos pais e professores sendo que somos obrigados a aceitá-las como verdades absolutas e a autoridade de ambos não é questionada.
 
Na adolescência, isto começa a mudar. Já não se aceita mais tudo que é imposto. Tudo passa a ser questionável. O jovem passa a rebelar-se e há o rompimento do “cordão umbilical”. A autoridade dos pais e mestres já é questionada e, na escola, o aluno quer saber porque deve aprender esta ou aquela matéria.
 
Na idade adulta, passa-se a ter mais maturidade e independência. Nosso livre arbítrio e nossas crenças passam a ser responsáveis por nossas escolhas. Isto traz ao adulto experiências vivas onde aprende com seus próprios erros e acertos. Tem consciência do que não sabe e o quanto este desconhecimento lhe faz falta.
 
A Andragogia é a ciência e a arte da educação de adultos, enquanto a Pedagogia é a arte e a ciência da educação de crianças e adolescentes. Ambas formam a base da Antropologia, ou seja, a arte e a ciência de educar permanentemente o ser humano em qualquer período de seu desenvolvimento psicológico em função de sua vida cultural, ecológica e social.
 
Entretanto, a evolução do ser humano ainda não foi percebida por inúmeras instituições de ensino, no que diz respeito à educação. Escolas e universidades ainda aplicam, para os adultos, as mesmas técnicas de ensino empregadas nas escolas de ensino fundamental e médio.
 
Talvez aí esteja a razão de você, caro leitor ou leitora, participar de inúmeros cursos de atualização, workshops, congressos e eventos e ficar com a impressão que você saiu do mesmo jeito que você entrou, ou seja, na mesma, sem que o evento tenha lhe trazido algo significativo para aplicação imediata no seu trabalho ou na sua profissão.
 
Este fato foi percebido por Lindeman (1926) que escreveu: “… a educação do adulto será através de situações e não de disciplinas. Nosso sistema acadêmico cresce em ordem inversa: disciplinas e professores constituem o eixo educacional. Na educação convencional é exigido que o estudante ajuste-se ao currículo estabelecido: na educação do adulto o currículo é constituído em função da necessidade do estudante. As matérias só devem ser introduzidas quando necessárias. Textos e professores têm um papel secundário neste tipo de educação; eles devem dar a máxima importância ao aprendiz”. Para mais, segue Lindeman: “… a força de maior valor na educação do adulto é a experiência do aprendiz”, e termina afirmando: “Ensino autoritário, exames que predeterminam o pensamento original, fórmulas pedagógicas rígidas – tudo isto não tem espaço na educação do adulto… Adultos que desejam manter sua mente fresca e vigorosa começam a aprender através do conflito de situações. Buscam seus referenciais nos reservatórios de suas experiências, antes mesmo das fontes de textos e fatos secundários. São conduzidos a discussões pelos professores, os quais são, também, referências de saber e não oráculos”.
 
De acordo com Knowles (1970), à medida que se tornam adultos e maduros, as pessoas sofrem transformações, como:
  • passam a ser indivíduos independentes autodirecionados;
  • acumulam experiências de vida que vão ser fundamento e substrato de seu aprendizado futuro;
  • seus interesses pelo aprendizado se direcionam para o desenvolvimento de habilidades que utiliza no seu papel social, na sua profissão;
  • passam a esperar uma imediata aplicação prática do que aprendeu, reduzindo seu interesse por conhecimentos que serão úteis no futuro.
  •  
Por isto, as características da aprendizagem na Pedagogia e na Andragogia são diferentes, como podemos observar no quadro abaixo.
 
Características da
aprendizagem
Pedagogia
Andragogia
Relação professor/aluno
Professor é o centro das ações, decide o que ensinar, como ensinar e avalia a aprendizagem
A aprendizagem adquire uma característica mais centrada no aluno, na independência e na auto-gestão da aprendizagem
Razões da aprendizagem
Crianças e adolescentes devem aprender o que a sociedade espera que saibam, seguindo um currículo padronizado
As pessoas aprendem o que realmente precisam saber (aprendizagem para a aplicação prática na vida diária)
Motivação
A motivação para a aprendizagem é fundamentalmente resultado de estímulos externos ao aluno, como notas, classificações escolares e apreciações do professor
Os adultos são sensíveis a estímulos de natureza externa (notas, etc.), mas são os fatores de ordem interna que os motivam para a aprendizagem (satisfação, auto-estima, qualidade de vida, etc.)
Experiência do aluno
O ensino é didático, padronizado e a experiência do aluno tem pouco valor
A experiência é uma fonte rica de aprendizagem, através da discussão e da solução de problemas feita em grupo
Orientação da aprendizagem
Aprendizagem por assunto ou matéria
Aprendizagem baseada em problemas, exigindo ampla gama de conhecimentos para se chegar à solução
Vontade de aprender
A finalidade é obter o êxito e progredir em termos escolares
Os adultos estão dispostos a iniciar um processo de aprendizagem desde que compreendam sua utilidade para melhor enfrentar problemas reais de sua vida pessoal e profissional
  
Percebe-se claramente que na atividade andragógica o ponto de vista cultural, profissional e social é a confrontação de experiências de dois adultos, daquele que educa (facilitador) e daquele que é educado (aprendiz). Desaparece a diferença entre ambos visto que são adultos com experiências e igualados no processo dinâmico da sociedade. Na Andragogia, o conceito tradicional, onde um ensina e o outro aprende, um sabe e o outro não sabe, teoricamente deixa de existir para se tornar uma ação recíproca onde, muitas vezes, é o facilitador (professor) quem aprende.
 
O professor necessita ter a humildade suficiente para, além de se tornar um aprendiz, transformar-se em tutor eficiente para demonstrar a importância prática do assunto a ser estudado; transmitir o entusiasmo pelo aprendizado; mostrar como aquele conhecimento fará diferença na vida dos alunos; e, enfatizar que aquele aprendizado irá mudar suas vidas e a de outras pessoas.
 
Se o professor necessita mudar, o aprendiz necessita iniciar o processo mudando seus próprios valores, suas crenças e aprender a ter flexibilidade, para que aumente sua capacidade de aprendizado. E isto ele só vai conseguir com uma mudança nas suas atitudes.
Todos estes princípios já estão sendo empregados em firmas, fábricas, etc. através dos departamentos de Relações Humanas. Métodos administrativos de CQT (controle de qualidade total) já prevêem e aproveitam estas características dos adultos, que são estimulados, em reuniões periódicas, a discutir os problemas nos diferentes setores e processos de suas responsabilidades, suas causas e possíveis soluções que serão implementadas e reavaliadas posteriormente.
 
Não devemos esquecer que as faculdades recebem adolescentes como calouros que irão se transformar em adultos ao final do curso. Isto implica que o trabalho, durante o curso de graduação, fica no limite entre a Pedagogia e a Andragogia. Portanto, deveria haver um meio termo, onde fossem preservadas as características positivas da Pedagogia e introduzidas as inovações eficientes da Andragogia. O aprendiz deve ter enfatizada a necessidade e a capacitação para uma aprendizagem contínua ao longo de sua vida, para se tornar um profissional mais competente, com auto-estima elevada, seguro de suas habilidades e comprometido com a sociedade que irá servir.
 
É isto que vai fazer o sucesso deste tipo de aprendizado. Enquanto a Pedagogia é aprendizado em mão única, a Andragogia é aprendizado em mão nos dois sentidos.



Luiz Roberto G. Fava é cirurgião dentista, especialista e ministrador de cursos em Endodontia e Palestrante nas áreas de qualidade de vida, motivação e sucesso
Comentários:


REGINA ALMEIDA comentou em 30/08/2009 - 15:08:55

Excelente artigo. Gostaria de informações sobre livros e cursos de andragogia.

Ednsilson Zanini (prof_zanini2000@yahoo.com.br) comentou em 30/08/2009 - 15:08:47

Caro Dr. Luiz Roberto
Excelente a matéria, a qual relata a pura realidade do ensino superior. Porém fica aqui uma pergunta: - Por que as Instituições de Ensino Juntamente com o MEC não adequam esta necessidade?


Isabel (isabelmsaid@yahoo.com.br) comentou em 26/07/2010 - 21:07:14

Olá, gostei do seu artigo, pois revela uma preocupação com uma educação voltada para a realidade dos estudantes, sobretudo, dos adultos que tem cracterísitcas e necessidades específicas. Porém, não concordo com o conceito de Pedagogia tratado no texto. Não a vejo como uma ciência voltada para crianças e adolescentes, e sim, como uma ciência da educação que estuda os processos de ensino-aprendizagem em todos as suas dimensões. Nessa perspectiva, ela não visa um "aprendizado em mão única", pois como uma ciência dialética articula o processos teóricos e a prática, em seus diferentes contextos.

diana schimidt scott (dianascott49@hotmail.com) comentou em 07/10/2010 - 13:10:33

EXELENTE ARTIGO DR. LUIZ ROBERTO.LEVAREI PARA DEBATE NO CURSO QUE FAÇO NA UNUVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CAMPUS NOVA FRIBURGO.UM ABRAÇO

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