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LIDERANÇA & ANDRAGOGIA

Luiz Roberto G. Fava
27/02/2009



De todos os seres da natureza, o homem é o único ser consciente pelos atos que pratica e o único que tem a capacidade de aumentar seus conhecimentos por vontade própria. Por isso é o mais desenvolvido de todos.
 
Dizer que a busca de novos conhecimentos cessa em determinado estágio da vida é uma grande ilusão. O homem necessita evoluir através de um aprendizado contínuo durante todo o seu viver.
 
Este aprendizado inicia-se pelos pais durante a infância, passa pelos professores até o final da adolescência (do ensino fundamental à universidade) e tem continuidade através da pós-graduação, MBAs, cursos de reciclagem e de aperfeiçoamento, etc.
 
O que não pode e não deve ser esquecido é que várias transformações ocorrem no ser humano à medida que vão se tornando mais maduros. Knowles assim as descreve:
  • as pessoas deixam de ser dependentes para se tornarem indivíduos independentes, auto-direcionados;
  • acumulam experiências de vida, as quais serão o fundamento e o substrato de seu próprio aprendizado futuro;
  • seus interesses pelo aprendizado se direcionam para o desenvolvimento de habilidades que serão utilizadas na sua vida pessoal e profissional;
  • esperam uma imediata aplicação prática do que foi aprendido e reduzem seu interesse por conhecimentos de aplicação futura;
  • preferem aprender para resolver problemas e desafios do cotidiano, mais do que simplesmente aprender um determinado tema;
  • passam a apresentar motivações internas, como desejar uma promoção, sentir-se realizado por ser capaz de realizar uma ação recém aprendida, melhorar sua qualidade de vida, etc. Esta motivação interna é muito mais intensa que motivações externas como notas e avaliações de provas e testes.
     
Desta forma, define-se Andragogia como a ciência e a arte da educação de adultos, enquanto Pedagogia refere-se ao aprendizado direcionado a crianças e adolescentes.
 
Pilares da Andragogia
 
E. C. Linderman, um dos maiores pesquisadores da educação de adultos descreveu, assim, os cinco pontos-chave deste tipo de educação:
  • adultos são motivados a aprender à medida que percebem que as necessidades e interesses que buscam estão e continuarão sendo satisfeitos. Por isso estes são os pontos mais apropriados para se dar início à organização das atividades de aprendizagem de adultos;
  • a orientação da aprendizagem dos adultos está centrada em sua vida; portanto, as unidades apropriadas para se organizar seu programa de aprendizagem são as situações de vida e não disciplinas. O aluno é quem deve determinar junto aos professores o que deve ser ensinado para que seus anseios sejam satisfeitos;
  • a experiência é a mais rica fonte para o adulto aprender; assim, o centro da metodologia da educação do adulto é a análise das experiências externas e do próprio cotidiano de cada aluno. Praticamente todo o conteúdo deve ser de utilidade prática e imediata; porém, devem resultar em mudanças de atitude e aperfeiçoamento de habilidades passíveis de gerar resultados a longo prazo. O adulto aprende aquilo que faz e vivencia, sendo a experiência seu próprio livro-texto;
  • adultos têm uma profunda necessidade de ser auto-dirigidos: por isso o papel dos professores é engajar-se no processo de mútua investigação  com os alunos e não apenas transmitir-lhes seu conhecimento e depois avaliá-los;
  • as diferenças individuais entre as pessoas crescem com a idade; desta forma, a educação de adultos deve considerar as diferenças de estilo, tempo, lugar e ritmo de aprendizagem.
     
 Princípios básicos da Andragogia
 
Partindo-se da observação de Miller que afirma: “adultos retêm apenas 10% do que ouvem após 72 horas, mas são capazes de lembrar 85% do que ouvem, vêem e fazem após as mesmas 72 horas”, fica claro que o ouvir e o fazer tornam-se os procedimentos fundamentais na aprendizagem de adultos.
 
Para isso, o professor, também denominado facilitador, deve ter em mente os seguintes princípios, assim descritos por Ari B. Oliveira:
  • compartilhar experiências é fundamental para o adulto, tanto para reforçar suas crenças como para influenciar as atitudes dos outros;
  • a relação educacional do adulto é baseada entre o professor e o aluno, também denominado aprendiz, onde ambos aprendem entre si, em clima de liberdade e pró-ação;
  • o foco central é a aprendizagem, não o ensino;
  • aprender significa adquirir conhecimentos, habilidades e atitudes;
  • o processo de aprendizagem se desenvolve na seguinte ordem: sensibilização (motivação), pesquisa (estudo), discussão (esclarecimento), experimentação (prática), conclusão (convergência) e compartilhamento (sedimentação);
  • o diálogo é a essência do relacionamento: portanto, a comunicação só se efetiva através dele;
  • professor (facilitador) e aluno (aprendiz) compartilham o conhecimento de um com a experiência do outro. Fica difícil distinguir quem aprende mais, se o professor ou o aluno. O aprendizado andragógico é caminho de duas vias e não um caminho de mão única como a Pedagogia;
  • o professor necessita ter humildade suficiente para “descer do pedestal da cátedra” e situar-se no mesmo plano de aprendizagem para, através do compartilhamento, se desenvolver junto com o aluno;
  • o aluno (aprendiz) deve ter consciência que também necessita mudar seus valores e suas crenças (aprender a desaprender para reaprender) e ter mais flexibilidade para aumentar sua capacidade de aprendizado;
  • o aluno (aprendiz) deve estar motivado para uma aprendizagem ao longo de toda a sua vida, tornando-se, com o passar dos anos, mais competente, seguro de suas habilidades e comprometido com a sociedade na qual vive e serve.
     
 Andragogia nas empresas
 
Todos os princípios acima mencionados, de acordo com Roberto de A. Cavalcanti, já estão sendo empregados na área de recursos humanos “onde a gestão baseada em modelos andragógicos vem substituir o controle burocrático e hierárquico, aumentando o comprometimento, a auto-estima, a responsabilidade e a capacidade de grupos de funcionários resolverem seus problemas no trabalho”.
 
Para Rodrigo Goecks, “os conceitos andragógicos estão sendo expandidos para as áreas de gestão de pessoas, planejamento estratégico, marketing, comunicação, processos de qualidade, etc. Desde simples reuniões até complexos projetos de planejamento estratégico estão seguindo métodos baseados em conceitos andragógicos. As empresas já perceberam as vantagens e rapidamente implantaram programas de formação para transformar seus funcionários em facilitadores permanentes dentro das organizações”.
 
Desta forma, todos os colaboradores envolvidos nos problemas da corporação irão em busca de soluções através de reuniões, troca de idéias, descrição de experiências e vivências pessoais, simulações e apresentação de casos com o intuito de resolver problemas específicos.
 
Nos dias de hoje, onde competitividade e produtividade são as palavras “da hora”, as corporações necessitam estar cada vez mais preparadas, o que implica na necessidade do aprendizado constante de seus colaboradores. E é dentro deste contexto que as práticas andragógicas assumem papel fundamental. E onde se encaixam o perfil dos líderes e o papel da liderança.
 
Peter Senge afirma que, hoje, os líderes devem ser “projetistas, professores e regentes”, ou seja, devem desenvolver projetos, ensiná-los e manter a equipe afinada, onde cada membro tem uma função específica na “orquestra”. Nesta conjuntura, o líder deverá desenvolver novas crenças e valores e onde os liderados serão estimulados a expandir e aumentar suas competências continuamente.
 
Este deverá ser o papel do novo líder, o de ser o responsável pelo aprendizado dos membros de sua equipe; uma pessoa que possa entender e acelerar a aprendizagem e, ao mesmo tempo, incentivar e integrar o pensar de seus membros e tirar deles o melhor que possuem em benefício de todos.
 
Stephen Covey, autor do 8º Hábito - Da eficácia à Grandeza, afirma que aprendemos melhor quando ensinamos outra pessoa e que a melhor maneira de fazer as pessoas aprenderem é transformá-las em professores, ou seja, cada aprendiz se torna um professor e cada professor, um aprendiz.
 
Esta conduta, ao ensinar ou compartilhar o que se aprende com outras pessoas, leva-nos, de forma implícita, a assumir um compromisso de viver aquilo que se aprendeu. E isto “é a base para aprofundar o aprendizado, a dedicação e a motivação, tornando legítima a mudança e engajando o apoio da equipe”, como também afirma Covey.
 
Liderança & Andragogia
 
James C. Hunter, em seu best seller “O monge e o executivo”, define liderança como “a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem comum”.
 
Para Norman Schwarzkopf, “líder é aquele que faz com que as outras pessoas façam, com prazer, aquilo que normalmente não fariam”.
 
Estas duas definições bastam para mostrar a importância da aplicação de princípios andragógicos nas corporações. Mas aquele que for o transmissor do conhecimento, o facilitador, o líder, deverá estar preparado levando em consideração alguns pontos, quais sejam:
 
1. O líder também é membro da equipe
Assim como a orquestra necessita do maestro, a equipe necessita do líder. O líder, além de integrar a equipe, tem a importante missão de desenvolver a integração entre si e seus liderados. Para isso, o líder deve ter humildade suficiente para, além de se tornar um aprendiz, transformar-se em um tutor eficiente capaz de demonstrar a importância prática daquilo que será estudado, transmitir o entusiasmo pelo aprendizado e demonstrar que o aprendizado irá mudar a vida, tanto de seus liderados, como a de outras pessoas.
 
Não existe mais espaço para líderes arrogantes, donos da verdade, egocêntricos e orgulhosos na prática dos princípios andragógicos.
 
Integrado à própria equipe, o líder passa a ser crítico e participante ao mesmo tempo.
 
2. Uma equipe é feita por pessoas
E, como tal, o líder deve ter a sensibilidade de perceber que não existem duas pessoas iguais. Ele irá liderar uma equipe de seres humanos, cada um com seus princípios, suas crenças e seus valores.
 
Para tanto, ele terá que respeitá-los como são e harmonizá-los com a finalidade de alcançar um objetivo comum. E isto pode não ser fácil, porém não é impossível.
 
Mas, se lembrar que  deve tratar o próximo como gostaria de ser tratado, a distância entre as pessoas vai diminuir bastante.

 
3. As pessoas têm idade e vivências diferentes
 
As pessoas que compõem a equipe podem ser jovens, mais velhas, de meia idade, enfim, algumas mais ousadas e imediatistas, outras mais ponderadas e realistas.
 
O líder deve ter ciência que os valores mudam para cada geração. Enquanto os jovens podem contribuir com idéias novas, arrojadas, os mais velhos têm a experiência de vida.
 
E é neste ponto que o papel do líder é fundamental. Fazer com que o jovem aceite a experiência do mais velho, e o mais velho, por sua vez, aceite a inovação do mais jovem.
 
A busca do equilíbrio é fundamental para a manutenção da coesão da equipe, visto que não existe mais o conceito pedagógico onde um ensina e o outro aprende. Na prática andragógica, todos ensinam e todos aprendem.
 
4. A comunicação deve ser eficiente
 
A comunicação deve ser sempre franca, sincera e no momento apropriado por cada um dos membros, inclusive o líder, com a finalidade de manter a união existente no grupo.
 
Como as pessoas são diferentes, uma mesma mensagem pode ser interpretada de maneiras também diferentes.
 
O líder deve estar alerta visto que interpretações erradas podem gerar conclusões inadequadas levando a conflitos dentro da equipe.
 
5. Clima de descontração
 
O líder deve ter ciência que a criação de um clima descontraído para a aprendizagem favorece a confiança, o respeito e uma melhor aceitação por parte dos aprendizes.
 
Uma atmosfera mais livre e aberta encoraja a sensação que as pessoas estão realmente engajadas no processo de aprendizagem.
 
6. Rótulos, nem pensar
 
Partindo-se do pressuposto que cada pessoa tem o seu próprio ritmo, que seus problemas são diferentes uns dos outros, que suas prioridades são distintas, tudo isso pode levar as pessoas a se rotularem até de forma injusta.
 
O líder deve lembrar que todos os membros são seres humanos, com seus defeitos e suas virtudes e o comportamento de um rotular o outro deve ser banido do grupo.
 
Volto ao exemplo da orquestra. Cada membro está ali para aprender e realizar uma determinada tarefa em prol do bem comum e de um objetivo a ser alcançado, independentemente de seus princípios, crenças e valores.
 
7. Saber ouvir
 
Em um procedimento andragógico, todos falam, relatam situações, propõem soluções baseadas em suas experiências de vida, enfim, todos se comunicam. Então os conflitos são perfeitamente previsíveis. O grande desafio é enfrentá-los com respeito, profissionalismo e de forma aberta.
 
Não só o líder, mas todos os liderados, devem desenvolver a habilidade do saber ouvir ou o ouvir com qualidade. Para o líder, como afirma Paulo Gaudêncio, “o outro é uma pessoa e o respeito à dignidade dela começa por lhe dar identidade, ouvindo e considerando o que ela diz”.
 
Não esquecer que as estatísticas demonstram que, na comunicação, uma pessoa gasta 65% de seu tempo ouvindo, 20% falando, 9% lendo e 6% escrevendo. E as escolas, com o ensino pedagógico, enfatizam o ler e o escrever e não se esforçam na prática do falar e, principalmente, do ouvir.
 
Prestar atenção às pessoas é uma necessidade humana legítima que os líderes não devem negligenciar, como afirma James C. Hunter.
 
8. A situação sempre é de ganha-ganha
 
O líder deve ser a pessoa que dá o primeiro passo. A partir daí a cooperação de todos faz com que cada um ganhe um pouco e toda a equipe, muito mais. Todos devem lucrar.
 
Fica terminantemente excluída a máxima que “a vitória de um ocorre às custas da derrota do outro”.
 
9. Espírito participativo
 
O líder deve ter em mente que a participação, dele e de seus liderados, de forma frequente, é o caminho onde todos aprenderão. Tal frequência, feita de forma repetitiva e uniforme, faz os indivíduos adquirirem novos hábitos e novas formas de pensar.
 
10. Motivação
 
A motivação é elemento básico da aprendizagem porque desenvolve novas habilidades. A motivação auxilia no querer aprender pois, sem motivação, pouco ou nada se aprende.
 
O líder não deve ser apenas um agente motivador, mas deve manter a equipe motivada. Ele deve desenvolver a percepção nos liderados que a aprendizagem vai ajudá-los a obter novas informações, aprender e ter contato com novas técnicas e novas idéias, ter progresso no trabalho, etc. Desta forma, eleva-se não só a auto-estima de todos como aumenta a satisfação pelo trabalho realizado.
 
A motivação está diretamente relacionada à expectativa de sua melhoria profissional e na busca de seu crescimento pessoal.
 
11. Feedback
 
Todos na equipe, líder e liderados, devem aprender a dar feedback entre si. O feedback sincero, autêntico, é essencial para o progresso da equipe e deve ser dado o mais rápido possível. E lembrar sempre: feedback não é crítica pessoal e talvez seja a maneira mais importante para se reforçar a aprendizagem.
 
12. Elogio e reconhecimento
 
A cada vitória alcançada, líder e liderados devem elogiar e reconhecer o trabalho do membro da equipe que alcançou o objetivo de sua tarefa e devem ser sinceros e específicos e, de preferência, com todos os membros presentes.
 
13. Incentivo constante
 
O líder deve sempre incentivar seus liderados a seguir aprendendo, pois isto será o estímulo de seu constante crescimento pessoal e profissional para sejam sempre bem-sucedidos.
 
O verdadeiro líder sempre deseja que seus liderados sejam melhores do que ele.
 
14. “Não sei” é uma resposta sábia
 
Além de todas estas considerações, o líder deve ter em conta que ele não é nenhum super-homem. Ele é um ser humano como qualquer um dos membros de sua equipe. E, como tal, não é dono de todo o conhecimento. Portanto, dizer “não sei” aos seus liderados demonstra honestidade e sinceridade, qualidades do verdadeiro líder.
 
O que deve estar sempre presente na cabeça de todos é que não existe um exército sem um general ou um time de futebol sem um técnico. Todos têm um papel a desempenhar. Se a vitória, o sucesso, é o objetivo, a equipe deve ter um líder integrado e consciente de que todos, sem exceção, são seres humanos diferentes uns dos outros.
 
A partir daí as coisas se facilitam e o sucesso é alcançado de forma mais rápida.



Luiz Roberto G. Fava é cirurgião dentista, especialista e ministrador de cursos em Endodontia e Palestrante nas áreas de qualidade de vida, motivação e sucesso
Comentários:


adil (adil-guima@hotmail.com) comentou em 03/03/2011 - 18:03:00

Muito boa Materia, estou me formando em geografo. Poderia mandar este texto para o meu e-mail acima Obrigado

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