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O DOMÍNIO MUNDIAL

Richard N. Rosecrance
14/08/2013



Pequim precisa importar a maior parte do seu petróleo. O dinheiro para comprá-lo vem de exportações, principalmente para o Ocidente.

Em 1904, o geógrafo Halford Mackinder disse que o país que controlasse a Ásia Central dominaria "a ilha mundial" - o território combinado de Europa e norte da Ásia - e, com o tempo, governaria o mundo. Na ocasião, a Rússia enfrentava uma guerra e uma revolução, e não pôde controlar a área central. Que dirá governar o mundo. Mas os termos de Mackinder apontavam para o papel crucial do tamanho territorial e econômico na competição entre nações.

Sem citar Mackinder, o presidente Barack Obama e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, tentam criar uma zona de livre comércio entre União Europeia e EUA, uma potência com metade do PIB mundial. A união aumentaria comércio, emprego, exportações, investimento e consumo. Se o acordo for concluído em 2013, serão criados um milhão de empregos, em 10 anos, e haverá um aumento de 0,5% no PIB de ambos os lados do Atlântico.

Mas a melhor razão para o acordo é que o poder se desloca para o Oriente e é preciso reconsolidar o Ocidente. Pensando nisso, a China fortaleceu seus laços com o exterior. Ao mesmo tempo em que se desfazia de dólares e comprava euros, Pequim transformava seus títulos do governo americano em ações de corporações dos EUA. A China entrou nos mercados monetários de Londres e investiu na África. Mas nada disso criou uma unidade política alternativa. Países como Sudão, Zimbábue, Mianmar e Coreia do Norte nunca serão pilares de uma nova ordem econômica internacional. Não há um contrapeso político ou econômico para o Ocidente.

A busca de Obama e Merkel por um tamanho maior não é um objetivo novo. Estrategistas sempre souberam que países com mais habitantes, riqueza e espaço econômico podem produzir mais e negociar numa região mais ampla. Os estrategistas do pós-guerra chegaram a conclusões similares. George Kennan e Paul Nitze reconheceram que "uma combinação de recursos físicos de Rússia e China, com a habilidade técnica da Alemanha e do Leste Europeu, significaria uma realidade militar poderosa. Assim, nasceu a Otan, sustentada pelo Mercado Comum Europeu, futura UE. A Rússia quis se unir ao Ocidente, mas quando Vladimir Putin assumiu, o sonho se desfez. Os preços do petróleo subiram e Moscou concluiu que não precisava ser uma democracia.

A China, no entanto, precisa ser trazida para o lado do Ocidente. O equilíbrio de poder leva a conflitos, mas um poder superior atrai outros para seu núcleo. E a China é dependente desse núcleo. Diferentemente da Rússia, Pequim precisa importar a maior parte do seu petróleo. O dinheiro para comprá-lo vem de exportações, principalmente para o Ocidente.

A unidade econômica UE-EUA exigirá que os chineses também façam parte dela. Os céticos dirão que ela é uma melhoria de uma relação já sólida, que o Ocidente pode atrair a China sem esse acordo. Os EUA, porém, tentaram e fracassaram. Ficou claro que Washington precisa do Ocidente forte para chamar a atenção da China. A vantagem da parceria com a UE é que ela tem uma forte base política e de segurança. Será uma aliança poderosa. No fim, o comércio - não a guerra - atrairá outros para o núcleo ocidental.


Fonte: Estadão



Professor de Harvard, Kennedy School.
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