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O CÉREBRO E O CORAÇÃO

Benedicto Ismael C. Dutra
19/08/2014



“Tenham a coragem de seguir seu coração e sua intuição, pois de algum modo eles já sabem o que vocês realmente querem ser. Todo o resto é secundário”. – Steve Jobs

No mês de julho passado ocorreu uma avalanche de acontecimentos constrangedores. Parece que se formaram simultaneamente vários canais de irradiações desfavoráveis, desencadeando efeitos negativos. Não fomos bem sucedidos no mundial de futebol, revelando nossa fragilidade. Teve início nova guerra no Oriente Médio. Um avião com 298 passageiros, atingido por um morteiro, caiu na Ucrânia. Na África, surgiu nova epidemia de Ebola. A Argentina caiu no calote. Descobrimos que estamos diante da maior extinção de animais que já houve na Terra. No Brasil, observamos uma das mais renhidas disputas eleitorais. Secas e inundações se sucedem em várias regiões. Aumentam os desentendimentos e a insensibilidade entre as pessoas.

O ser humano tem agido sem ouvir o que o coração diz, perdendo a consideração pelas demais criaturas que contribuem para a sustentabilidade da vida no planeta. Conservar puro o foco dos pensamentos é vital para manter a serenidade e cultivar a paz. Não é fácil de entender a frieza com que algumas pessoas agem. Como humano, o homem deveria agir com generosidade, lealdade e consideração. Muito se tem falado do coração que abrigaria essas qualidades. No entanto isso falta em muitas situações. Qual seria a causa da insensibilidade?

Recebemos um corpo herdado do pai e da mãe. Na geração desse corpo atua a pouco conhecida lei da atração da igual espécie, com forte influência sobre o tipo de alma atraída para encarnação. Além disso, as experiências na primeira infância moldam o cérebro infantil ensejando as propensões para o futuro. Conforme descobertas efetuadas pelos pesquisadores da neurociência, se um bebê recebe carinho, afeto e bons exemplos desde o nascimento, a parte cerebral, que é formada na primeira infância, irá criar no cérebro circuitos que freiam os impulsos egoístas que exigem gratificação imediata.

Hoje o cenário é de desestruturação não apenas das famílias, como também de muitos valores. Os estudiosos do cérebro e do comportamento descobriram que é nos primeiros anos de vida que se forma o arcabouço básico das conexões cerebrais. Países desenvolvidos como os Estados Unidos investem na educação infantil visando formar uma base moral e de patriotismos desde a primeira infância, mas para isso é indispensável a presença de educadores bem preparados e que tenham elevada consideração humana. No entanto, há sempre o risco de que o cérebro frontal vá acumulando experiências negativas afastadas do sentido da vida, que geram descontentamento e revolta sem o contrapeso do coração, da intuição.

Esquecemos a importância de possibilitar às crianças o contato com a natureza, e de observar sua beleza e graça, sua lógica natural impulsionando tudo para o progresso. Desde cedo elas ficam conectadas aos eletrônicos. Precisamos de aplicativos que mostrem a perfeição da natureza como modelo para o progresso real, em suas causas e efeitos e a perfeita integração das espécies para assegurar a sustentabilidade da vida. Solo, água, ar, florestas e fauna, tudo interligado pela vida.

Há uma região do cérebro frontal onde poderão se alojar tendências maldosas e vingativas decorrentes do descontentamento e desejo de satisfação imediata, que podem se tornar dominantes no comportamento, pois também são fortalecidas por impulsos atraídos através da igualdade de espécie.

No entanto, o ser humano sempre pode usar o seu livre arbítrio. Ao atingir a adolescência e fase adulta, cada indivíduo tem a possibilidade de escolher e decidir sobre os rumos de sua vida, desde que tenha o eu interior desperto e a intuição ativa para ver e sentir o que se passa a sua volta.

A modelagem do cérebro é muito poderosa. No cérebro frontal acumulam-se as experiências, e se este for unilateralmente fortalecido, mantêm-se a propensão para satisfação imediata a qualquer custo, utilizando a astúcia e frieza do raciocínio. Isso é uma prerrogativa do ser humano, pois diferentemente dos animais que se guiam exclusivamente pelo instinto, o homem é dotado de livre arbítrio que o capacita a tomar decisões contrárias ao fluxo das leis naturais da Criação, ficando, porém responsável pelas consequências.

Chegamos ao estágio do cérebro frontal superdesenvolvido sem contato com o espírito ou com o coração, sem medo, sem emoção, com raciocínio frio e astuto, que por sua vez também produz efeito hereditário sobre os descendentes. Mas como funciona essa propriedade benéfica que chamamos de coração? Por que os humanos vão se tornando insensíveis e indiferentes as grandes tragédias? Por que muitas coisas imorais vão degringolando tudo?

Na obra Na Luz da Verdade, Abdruschin descreve o processo sobre a integração dos dois cérebros existentes na caixa craniana de cada ser humano - o frontal, e o posterior, conhecido como cerebelo, cuja função principal é a de possibilitar a conexão com o eu interior através das imagens de uma espécie diferente formadas pela intuição, e enviadas ao cérebro frontal pelo cerebelo. Ele explica: “No entanto, o ser humano saiu voluntariamente dessa via que lhe foi prescrita pela constituição do corpo. Com teimosia interferiu no curso normal da corrente de seus instrumentos, fazendo do raciocínio o seu ídolo. Dessa maneira lançou toda a energia na educação do raciocínio, unilateralmente, apenas sobre esse ponto. O cérebro anterior, como gerador, foi forçado desproporcionalmente em relação aos demais instrumentos cooperadores”.

A sensibilidade, que chamamos qualidade do coração, provém do espírito. Abdruschin esclarece que, com o desenvolvimento desarmônico dos cérebros, essa qualidade vai perdendo eficácia pela falta do fio condutor, e o ser humano regride sem alcançar aquilo que deveria ter sido desde o início: o beneficiador da Criação e transmissor de Luz para todas as criaturas.




Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini e é associado ao Rotary Club de São Paulo. É articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros: “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”;“2012...e depois?”;“Desenvolvimento Humano”; “O Homem Sábio e os Jovens” ,“A trajetória do ser humano na Terra – em busca da verdade e da felicidade”; e “O segredo de Darwin - Uma aventura em busca da origem da vida”(Madras Editora). E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7
Comentários:


José Adolfo Zednik (jazmarchand@gmail.com) comentou em 11/01/2015 - 23:01:54

Certa ou errada a intuição " que já foi pensada de alguma forma " , faz o coração sentir e se incorporar. Essa dupla é fantástica !!!

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