Desde cedo, John Law, matemático escocês (1671-1729), habituou-se à vida devassa nos ambientes frequentados pela nobreza da Europa. Logo percebeu a existência de um abismo entre o que se pregava como necessidade moral e as atitudes concretas dos seres humanos, independentemente de sua origem, fossem representantes da Igreja, protestantes ou judeus. John se tornou um materialista que apenas dava valor aos cálculos, rejeitando a idéia da existência de um Criador.
Ele tinha um raciocínio arguto, logo percebendo os obstáculos que impediam o florescimento da produção e do comércio com mais vigor, num período em que somente circulavam moedas metálicas, de ouro ou prata, as quais se mostravam insuficientes para o incremento das relações de troca.
John Law desenvolveu a teoria de que a oferta de moeda não deve ser determinada pelas importações de ouro ou pelo saldo da balança comercial, mas de maneira endógena pelas "necessidades de troca". Sem dinheiro em circulação, a atividade econômica se restringia às necessidades de subsistência, e os reis usavam as riquezas para se guerrearem mutuamente, dando aos financistas possibilidades para ampliar seus rentáveis negócios de empréstimos.
John queria eliminar a miséria e a pobreza e não descansou até que pudesse testar a sua teoria na prática com a adoção do papel moeda, tendo surgido essa possibilidade através do regente da coroa francesa. Para ele, o dinheiro seria a única forma de resolver os problemas da miséria, pois com seu enfoque materialista de ver o mundo, achava que com dinheiro, tudo poderia ser resolvido. Ele percebia que não basta oferecer pão a um faminto, é necessário oferecer trabalho. No entanto, John acabou sendo vítima de sua própria forma restrita de ver a vida, quando o excesso de papel-moeda acabou precipitando o estouro da bolha de valorização das ações da Cia. Mississipi, avidamente adquiridas por toda a população contaminada pela febre do enriquecimento fácil e rápido.
John Law havia descoberto a teoria das probabilidades, mas não foi capaz de atinar com o rigor da grande lei do equilíbrio, até hoje ausente na maior parte das atividades humanas, sejam governamentais ou empresariais. Indivíduos e organizações estão sempre prontos para receber ou tomar o máximo, oferecendo nada, ou o mínimo como retribuição. Com a falta de respeito a essa lei, o desequilíbrio e suas consequências danosas não se fazem por esperar, acarretando o aumento da miséria. Os critérios de medição da produção de bens por um país são falhos, pois ocultam o nível real da qualidade de vida e do meio ambiente.
Segundo o escritor Claude Cueni, em A Grande Jogada, naquela época o meio circulante na França foi inundado com papel-moeda emitido pelo regente, o Duque d’Orleans. Atualmente, os governantes estão subordinados aos Bancos Centrais, que controlam as emissões, mas não as bolhas especulativas, sendo obrigados a emitir para cobrir os rombos do mercado financeiro, socializando as perdas para evitar caos ainda maior que o vivido por John Law e todo o povo francês.
O dinheiro em si não contém nada de maligno, ao contrário, ele proporciona inúmeras facilidades. O grande mal está no incontrolável apego dos humanos ao dinheiro e seu acúmulo como razão prioritária da vida, ocupando com isso todo o seu tempo e energia disponíveis, sem respeito nem consideração ao próximo. Desenvolvendo suas atividades respeitando a necessidade do equilíbrio, a vida dos seres humanos não será vazia de sentido, pois terá alvo elevado e o desfrute trará a verdadeira felicidade.