O Cidadão Ilustre é um filme que se destaca dentre a mediocridade de histórias fúteis do cinema pipoca. O escritor Daniel Mantovani (Oscar Martinez), premiado com o Nobel de literatura, não perde a oportunidade para revelar a sua irreverência diante da apática sociedade de consumo que vai se afastando da cultura de amplitude para se apegar à cultura dos modismos passageiros.
Com sutileza, desdenha o Nobel recebido, mas a grande irreverência está reservada para a volta à sua terra natal para receber o título de Cidadão Ilustre, após ter permanecido por 40 anos vivendo na Europa. O cenário é o da baixa amplitude da vida nas muitas cidades interioranas da América do Sul. Vida vazia, pouca escolaridade, poucas oportunidades de desenvolvimento pessoal. Enfim, ali está o marasmo das economias subsidiárias do mundo desenvolvido, aonde as pessoas vão vivendo sem perceber que a vida tem significado e que o mesmo precisa ser desvendado através de busca incessante.
As falas de Mantovani sempre apontam o contraste entre o que se passa realmente e as aparências que as pessoas dão aos acontecimentos para fantasiar a realidade com as cores da mentira. Mas ele se opõe a esse estado doentio em que vive a sociedade humana, mostrando rigorosamente os embustes e falsidades que se embutem na vida real, tornando-a mera aparência que sobrevive pela falta de coragem de enfrentamento claro e objetivo. Ele diz que os intelectuais se escandalizam com as frases simples, mas efetivamente é nessas palavras que se encontram as verdades que perturbam os acomodados e indolentes que, presos aos seus vícios e pendores, não querem conhecer o real significado da vida.