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Desindustrialização e atraso

Benedicto Ismael C. Dutra
23/02/2021



Para dar impulso ao desenvolvimento, o governo militar tomou empréstimos externos. O petróleo subiu, nos anos 1980 os juros foram a mais de 20% aa. O dólar custava caro. O Brasil produzia e exportava, pois o dólar era favorável, e o governo comprava os dólares para pagar a dívida e emitia dinheiro para isso. A mercadoria ia embora; o dólar também, restando o dinheiro brasileiro que se multiplicava e, com isso, veio a superinflação. Houve o confisco bancário, a abertura e por fim o congelamento do preço do dólar sustentado com juros altos.

Os importados ficaram baratos, as importações fechavam fábricas e reduziam empregos. A dívida aumentou e caímos no atraso tecnológico e geral. É bom que o agronegócio tenha avançado, produzindo alimentos, mas não devemos nos conformar com possível retorno à condição de colônia exortadora de produtos in natura. Como sair dessa situação e não ficar para trás na tecnologia?

O câmbio tem exercido forte impacto na produção e exportação; em países como Japão, Índia e China, o câmbio desvalorizado em relação ao dólar lhes assegurou vantagem competitiva para exportação, pagando os custos internos com a própria moeda e recebendo as exportações em dólares. Dessa forma conseguiram acumular reservas e desenvolver a tecnologia, o oposto do que ocorreu no Brasil.

Nos últimos cinquenta anos o dinheiro se consolidou como a mola propulsora, mas a maturidade dos seres humanos ficou estagnada, e toda a economia entrou em desequilíbrio. Agora a circulação do dinheiro ficou travada gerando abalos. Um cenário de difícil solução. Os governantes eleitos periodicamente sofrem a interferência do legislativo, judiciário e da máquina permanente. Os Bancos Centrais não podem ficar reféns da politicagem, mas também deveriam ajudar na recuperação da economia, contribuindo para que se produza mais, gerando mais empregos, renda, consumo, bom preparo da população, sempre visando a melhora das condições gerais de vida, algo tão importante como cuidar da moeda.

Cada país com sua moeda, mas o dólar se tornou o padrão. A administração da produção e circulação do dinheiro requer um princípio de equilíbrio para assegurar boas condições de vida, mas as manobras econômico-financeiras para sugar o dinheiro se tornaram dominantes na produção, distribuição e finanças, acarretando superconcentração da riqueza.

Qual é o significado de a empresa Tesla ter aplicado 1,5 bilhão de dólares em bitcoin? Ampliam-se os negócios financeiros, mas a produção industrial cresce pouco. Até onde vai a criação de dinheiro e juros zero? A desinflação, promovida pela máquina de produção asiática, requer análise ampla das consequências. Os preços baixam, mas a produção se concentra, enquanto em outras regiões diminuem os empregos.

Com a globalização, as empresas passaram a buscar regiões mais convenientes do ponto de vista dos custos da mão de obra e outros. Recentemente, a Ford comunicou que deixaria de produzir veículos no Brasil. Essa é uma questão que deveria ser tratada com equilíbrio e bom senso entre empresas, empregados e governos, mas com as crises, o que estamos assistindo é uma forte tendência para a precarização geral.

A covid sanitária revelou a covid econômica, ambas refletem a covid espiritual anterior a elas, mas ainda não reconhecida plenamente pela humanidade. As novas gerações sabem que lhes falta preparo para a vida, porque foram induzidas ao comodismo, o que lhes aumenta o desencanto com a vida barrando a esperança e a força de vontade para alcançar melhoras gerais, pois de todos os lados só veem miséria e decadência, e raramente lhes é dado ver propósitos enobrecedores na espécie humana.

A displicência da classe política para melhorar o futuro, a falta de bom preparo das novas gerações e a cobiça por ganhos financeiros têm levado o mundo aos limites críticos. Em vez de ser aprimorada pelos seres humanos a democracia permaneceu estagnada e vem decaindo. Neste tempo de pandemia muitas pessoas estão percebendo a vacuidade existente em muitas coisas. Aumentam as notícias impactantes, as fakenews e falsas verdades criadas por mentes perturbadas.

Está faltando um voluntariado geral para fortalecermos o humano na nossa civilização. É indispensável, para isso, a participação dos cientistas, artistas e jornalistas para examinar o mundo que estamos forjando para o futuro. Sem defendermos os valores que contribuem para o aprimoramento humano, a melhora será inviável.
 



Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini e é associado ao Rotary Club de São Paulo. É articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros: “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”;“2012...e depois?”;“Desenvolvimento Humano”; “O Homem Sábio e os Jovens” ,“A trajetória do ser humano na Terra – em busca da verdade e da felicidade”; e “O segredo de Darwin - Uma aventura em busca da origem da vida”(Madras Editora). E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7
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