O cineasta americano Oliver Stone se notabilizou por levar para as telas de cinema temas que causaram forte impacto na opinião pública. Em “JFK – A Pergunta que Não Quer Calar”, mostrou o promotor Jim Garrison (Kevin Costner) tentando provar a existência de uma conspiração, por não estar convencido do parecer final da Comissão Warren, estabelecida para investigar o crime, que concluiu ter sido o Presidente John F. Kennedy assassinado por uma única pessoa.
Em seu novo lançamento, em continuação ao filme “Wall Street – Poder e Cobiça”, Stone traz de volta Gordon Gekko (Michael Douglas) para mostrar as manipulações provocadas pelo dinheiro que nunca dorme: a especulação desmedida, a frieza amoral dos jogadores, as grandes transferências de riqueza, tendo como ultima instância o dinheiro público, que se vê na contingência de cobrir os rombos causados pela insensatez, criando um passivo para a geração do presente e do futuro.
O especulador está sempre vendendo caro algo que ele pretende comprar barato. Na atualidade, ganhar dinheiro é sempre atraente; planejar o trabalho, desenvolver o projeto, finalizar, obter os lucros, são fatores que promovem a realização pessoal, a autoconfiança, o progresso.
No entanto, o especulador age movido pela ganância em busca de satisfação e prazer através da possibilidade de ganhos ilimitados que o fazem se sentir poderoso. O esquema está bem detalhado no portal Carta Maior: “Com uma mão, o especulador vende o que não tem, a um preço elevado; com a outra, trabalha para derrubar as cotações ao rés do chão à medida em que se aproxima a data de vencimento da fatura. Se falhar nesse malabarismo paga a diferença ao seu cliente. Se a falha for sistêmica, de todo o capitalismo financeiro, como ocorre desde a implosão da bolha imobiliária nos EUA, em setembro de 2008, quem paga é a sociedade, através de fundos públicos, recessão, desemprego, arrocho salarial”.
O dinheiro passou a ser usado amplamente não apenas para financiar a produção e o consumo, tornando-se uma poderosa arma estratégica de influência e dominação, perdendo a sua característica de meio de trocas, passando a sua acumulação a ser considerada como fim em si. Com a acumulação, aumentou a voragem, e a especulação passou a ser considerada como a forma de aumentar continuamente a riqueza financeira, em papéis ou em bits nos supercomputadores. Um grande castelo de areia fadado a vir abaixo sempre que se evidenciar a inerente falta de sustentação real.
O mundo está inundado de papel moeda que nunca dorme, rodando pelo mundo a procura de ganhos especulativos e ativos rentáveis. Os Estados Unidos enfrentam déficits crônicos. A China acumula dólares e mantêm a sua moeda desvalorizada. Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda estão deficitários, são caudatários das receitas obtidas com juros, cujo grande ofertante tem sido o Brasil. O Japão corre atrás do prejuízo cambial comprando dólares para segurar a valorização do yen. O Brasil está esboçando medidas similares. Até onde vai esse jogo financeiro que infla o meio circulante planetário promovendo continua transferência e concentração de riqueza, reduzindo empregos, aumentando a miséria?
O dinheiro deve ser investido de forma a propiciar o bem estar e o progresso da população, e não para alimentar jogos do poder. Muitas empresas globais puderam investir em ativos permanentes no Brasil apenas com os juros aqui recebidos, sem contar a possibilidade de tomar dinheiro onde o juro é inferior a um por cento, e investir no Brasil para ganhar a diferença na operação conhecida como arbitragem. Os desequilíbrios econômicos, sociais, ambientais, e cambiais, para serem sanados requerem uma nova ética comercial, permitindo-se que os países possam produzir naturalmente, sem as ardilosas manobras que inviabilizam a produção e comercialização de bens a preços compatíveis com os custos, possibilitando um intercâmbio equitativo, indispensável ao progresso harmonioso entre os povos.