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EMBU DAS ARTES TEM SUA VOCAÇÃO!

Indaia Emilia e Sibélia Zanon
23/07/2011



Estamos vivendo a revisão do Plano Diretor de Embu das Artes e este é o momento em que temos a chance de escolher: que cidade nós queremos?

“O ponto é que cada cidade precisa descobrir a sua própria vocação. Desenvolvimento não é um caminho único, uma receita pronta. A vocação pode ser indústria? Pode. Mas também pode ser o comércio e os serviços associados à experiência turística, um caminho que Embu já vem trilhando com suas lojas, seus artistas, seus restaurantes e suas áreas protegidas.”

Carolina Derivi, no blog Eco Balaio, Planeta Sustentável

Embu das Artes tem uma grande área, chamada pela Minuta do Projeto de Lei do Plano Diretor de Zona de Interesse Ambiental, que abriga importantes mananciais, levando água para o Rio Cotia e para a Represa da Guarapiranga e contribuindo para o abastecimento de São Paulo. Isso faz de Embu das Artes uma cidade especial: além de ser a cidade das artes, tem ainda um patrimônio ambiental invejável! Essas características abrem portas para muitas possibilidades de investimento, como empresas de serviços, de comércio e o turismo por meio de turismo rural e ecológico, com trilhas, arborismo, observatório de aves, pousadas ecológicas, restaurantes com alimentos orgânicos e produtos da região, produção de mel, artesanato, entre outros.

Na Minuta do Projeto de Lei do Plano Diretor foram ampliadas as áreas industriais da cidade ao longo da BR 116, proposta coerente com as novas demandas trazidas pelo Rodoanel. Isso não significa, porém, que a vocação de Embu das Artes seja industrial. Usar a ideia da industrialização sob o belo manto de “emprego para todos” é imaginar que a população não tem capacidade para fazer uma análise crítica, nem outras opções de colocação.

É conhecido o crescente processo de automação na indústria. “Na indústria, quanto menor contato humano houver com o produto, mais reconhecida será a sua qualidade. As indústrias primam por automação também por causa do custo. Na medida em que automatizam, diminuem a mão de obra. Indústrias com pouco poder de investimento usam mais mão de obra no início. Quando não podem investir em uma embaladeira de alta tecnologia, embalam à mão. Mas essa não é a tendência. Visitei uma indústria de cinco andares, toda climatizada, que fornece milho e fubá. Ela era operada por duas pessoas. Praticamente não havia interferência humana na produção”, conta Armin Quadros Campos Melo, administrador de empresas e ex-funcionário de uma indústria em Embu das Artes.

A questão é muito mais ampla do que propiciar emprego para a população, porque se a discussão for essa, então não restam dúvidas. O setor de serviços no Brasil emprega muito mais do que o industrial. Considerando a participação de empregos formais no Brasil por setor, verificamos que em 2010 (a estatística analisa o ano até o mês de setembro) 70,9% dos empregos estavam no setor de serviços, 18,3% na indústria de transformação e 7,1% na indústria geral. Essa é uma tendência. Entre 1985 até setembro de 2010 o emprego cresceu 11% na área de serviços, enquanto diminuiu 28% na indústria de transformação. A análise foi publicada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). De janeiro a maio de 2011, na Grande São Paulo, a média diária de novas vagas no setor de serviços foi a maior dos últimos 5 anos, devido ao turismo de negócios e a grandes eventos, principalmente a Copa do Mundo de 2014. A indústria apresentou a desaceleração mais expressiva, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), caiu de 39,2 mil postos para 22,8 mil nos últimos cinco meses. Considerando estudos apenas sobre Embu das Artes, observamos que a tendência se repete. Segundo dados da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa), em 2009 Embu das Artes oferecia 12.283 empregos na indústria e 23.453 empregos em serviços.

Alguns exemplos bem sucedidos na região em que a Minuta do Projeto de Lei do Plano Diretor da cidade propõe implantar um corredor de indústrias e logística, chamado de “Zona Corredor Empresarial” (ZCE), já indicam a vocação de Embu das Artes. Nilton Nantes, gerente geral do Espaço Terra Hotel, um espaço diferenciado situado na Área de Proteção Ambiental (APA) Embu Verde, que atrai paulistanos em busca de sossego, conta que emprega mais de 50 pessoas. “Praticamente 100% dos nossos funcionários são da região. Temos funcionários dos bairros Capuava, Ressaca, Itatuba e Centro.”

Também o Almenat - Extensão Corporativa, complexo especializado em eventos e convenções, conta com cerca de 160 funcionários, dos quais 70% deles moram em Embu das Artes. Em meio a atividades corporativas, o complexo oferece opções de lazer, como uma trilha na Mata Atlântica e publica em seu site que “um dos orgulhos do Almenat é estar rodeado por uma grande faixa de Mata Atlântica, totalmente preservada”.

A Prefeitura de Embu das Artes tem um projeto de implementação de roteiros temáticos, prometidos para este ano, entre eles, o Roteiro do Bem-estar e o Roteiro do Ecoturismo e Rural, em que podem ser incentivadas diversas atividades que valorizam o potencial da Zona de Interesse Ambiental. Está na hora do projeto entrar em prática e deixar de ocupar apenas o papel!Embu das Artes vem sinalizando há anos sua vocação turístico-artística por meio de questões simples de compreender: sua imensa riqueza em recursos naturais e sua história, construída ao longo do tempo por muitos artistas que deixaram e continuam deixando suas marcas. Segundo a Prefeitura da cidade, considerando a média entre dois finais de semana de setembro e outubro de 2010, Embu das Artes recebeu mais de 9.500 visitantes aos sábados e mais de 19.500 visitantes aos domingos.

Quantos quilômetros um paulistano precisa rodar para chegar a uma cidade turística, privilegiada por artistas, pela riqueza da Mata Atlântica, por nascentes de água e por tranquilidade? Que preço será que os paulistanos pagam por isso? Embu fica a apenas 28 km de São Paulo. Os políticos passam pelas cidades, mas quem carrega para sempre o impacto de suas atitudes são os seus moradores. Por isso é legítimo o posicionamento de cada cidadão, é legítimo exigir uma análise abrangente sobre que modelo de desenvolvimento pretendemos seguir e, para tanto, é necessário tempo para avaliar impactos gerados por qualquer direcionamento. Estamos vivendo a revisão do Plano Diretor de Embu das Artes e este é o momento em que temos a chance de escolher: que cidade nós queremos?




Indaia Emilia e Sibélia Zanon são jornalistas e integrantes da Sociedade Ecológica Amigos de Embu (www.seaembu.org)
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