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A CRISE EUROPEIA E AS PERSPECTIVAS PARA O BRASIL


19/12/2011



Na reunião almoço do RCSP, realizada no dia 30 de novembro passado, compareceu na qualidade de palestrante convidado o Sr. Luiz Chrysostomo Oliveira Filho, Mestre e Bacharel em Ciências Econômicas, com especialização em Administração. Também é conselheiro do ESPRO, entidade associada ao RCSP. A seguir teremos um resumo de sua palestra proferida com admirável saber e competência.

O convidado iniciou suas palavras dizendo que o momento em que hoje vive a Europa, em termos de crise só é comparável em extensão e profundidade à crise havida após a II Grande Guerra e à crise dos anos 30. A crise atual é um desdobramento da crise de 2008 que foi uma crise bancária. Hoje a crise é de dívida soberana, dívida pública dos países. Historicamente, a maior parte das crises financeiras se transforma em crises de dívidas soberanas, ou seja, bancos quebram, o Estado assume, paga a conta e socializa a perda. Os bancos europeus são hoje instituições altamente interconectadas. Emprestam para elas mesmas e para os países compostos pela União Europeia. Muitas dessas instituições bancárias têm um volume de empréstimos superior ao ativo delas.

Parte substancial dessa dívida dos Governos europeus está no ativo desses bancos.

O mecanismo de união monetária foi instaurado pela União Europeia formalmente em 2002, de forma escritural e operacional, mas incompleta. Sempre se fala que faltou a “perna fiscal”. Foi criada uma moeda, mas não se criou um mecanismo de controle fiscal para ela. A soberania dos países continuou independente. A soberania política e orçamentária de cada nação continuou independente. Havia regras que definiam os limites de endividamento, de déficit e da dívida de cada país que foram paulatinamente desrespeitados. Hoje a inflação corroe a moeda. Além disso, o que vemos hoje é uma Europa imobilizada por anos de letargia estatal e baixa produtividade. A exceção é a Alemanha, que isoladamente continua produzindo em grande escala e com alta produtividade. Isso se deve muito à forma institucional como a Alemanha se organizou. É muito difícil fazer reformas sociais na Espanha, Portugal, Itália, França, pois a população desses países está acostumada com benefícios centenários, como horas trabalhadas, previdência, etc.

A Alemanha fez crescer sua produtividade e seu superávit preponderantemente em cima das outras economias europeias, que por sua vez perderam suas receitas.

A Europa vive hoje uma grande crise de governança política. Dividida e sem líderes, está com uma grande dificuldade de coordenação quanto às suas ações. O Banco Central Europeu não está exercendo adequadamente seu papel de guardião final da moeda, ao contrário do que fez o FED americano, que agiu com rapidez na crise de 2008-2009.

O atraso de sua ação de emprestador em última instância contribui para o agravamento da crise. Isso ocorre porque há grandes divergências quanto à visão que países com maior voto pelo tamanho de suas economias, no caso a França e a Alemanha têm quanto às mudanças necessárias das regras de conduta do Banco Central Europeu.

O palestrante apresentou gráficos com dados fornecidos pelo Banco Central Europeu, do FMI e do UECD e de algumas instituições privadas, com ativos do setor financeiro.

Ficou evidente que se um banco quebrar, a economia dos países da UE sofrerá um impacto gigantesco.

Em outro gráfico, fez a leitura de que o dinamismo europeu nos últimos 10 anos não está nas velhas nações europeias, mas nos países emergentes como Eslováquia, Romênia, Polônia, Montenegro, etc. Esses países se beneficiaram do fluxo de recursos que os bancos europeus lhes financiaram em euros. Hoje, os bancos começaram a reduzir seus ativos pois estão com dificuldade em captação. Com isso, são obrigados a reduzir os empréstimos para as nações, que então crescerão menos, venderão e comprarão menos, ampliando a crise.

Em outro gráfico, mostrou aos presentes a dimensão do tamanho do problema que começou com a crise de 2008.

Nele se vê que governos injetaram dinheiro na economia em 2008, 2009 e 2010, resolvendo o problema dos bancos alemães, austríacos, ingleses e a conseqüência foi uma dívida monumental, que aumentou em 50% todo o PIB europeu. Essa dívida foi comprada pelos bancos que voltaram a comprar a própria dívida emitida pelos governos, para não ter que emitir moeda.

Um dado importante – ter uma dívida grande não significa insolvência, como é o caso do Japão. O Brasil tem uma dívida menor que a metade da dívida americana. A dívida pode ser grande, mas não pode estancar o dinamismo das economias. Tem que poder financiar essa dívida e ter um certo grau de inovação e credibilidade (dólar na economia americana).

Grécia e Portugal são países que já quebraram há algum tempo; estavam recebendo oxigênio financeiro apenas para poderem dar conta dos ajustes necessários para os bancos. Itália e Espanha estão em situação delicada.

Continuando, o palestrante disse que em sua opinião o euro resiste a esta crise, mas vai existir em outro patamar. A ruptura do euro é muito improvável.

Alguns países como Portugal e Espanha pensam em operar a inflação para manejar a dívida pública, para não terem que cortar gastos públicos e desempregar. Alguns italianos pensam da mesma forma.

A Europa vai provavelmente viver uma década estagnada. Vai haver um aprofundamento da regulação dos bancos que serão mais controlados.

Para o Brasil, a Europa é hoje menos importante que no passado. Mas, uma crise importante não isola o Brasil. Sentiremos as consequências da desaceleração dos fluxos financeiros, que refletirão nas linhas de comércio exterior.
 
A China hoje depende da Europa e um agravamento da crise europeia afetará o crescimento da China, que afetará o Brasil. A economia americana irá se recuperar lentamente.

No Brasil, o consumo interno e o crédito público irão amortecer os impactos a curto prazo. O Brasil vai continuar a ser um receptor de investimentos externos, até europeu. Haverá riscos para a economia nos próximos dois a três anos. Temos que evitar que a solução de governo seja de mais Estado e de uma evolução do gasto público desordenado. Para nós, a história da Europa e o exemplo europeu não podem ser esquecidos para a boa conduta e o bom caminho que o Brasil começou desde l994 com o lançamento do Plano Real.

Em seguida, Luiz Chrysostomo disse não ver uma solução muito clara nos próximos seis meses por parte do Banco Central Europeu.



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