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AS CADEIAS PRODUTIVAS GLOBAIS

Antonio Corrêa de Lacerda
25/03/2013



Antonio Lacerda examina o deslocamento da produção das grandes empresas transnacionais, para países de menor custo. Essas empresas são responsáveis por dois terços do comércio mundial, tendo por isso grande influência sobre o modo de vida. Dependemos muito delas, da sintonia que adotam, podendo contribuir para sustentabilidade, possibilitando um viver ameno em busca do aprimoramento humano, ou numa guerra de disputas econômicas, conduzir a humanidade e o planeta, a beira do abismo.

A relevância das grandes cadeias globais de fornecimento foi ampliada com a globalização. As grandes empresas transnacionais passaram a deslocar sua produção para países de menor custo. Impulsionadas pela crescente massa de recursos financeiros, as empresas puderam expandir seus investimentos para além do seu território, incrementar os fluxos de comércio e acelerar a inovação dos seus produtos e serviços com dispêndios crescentes em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Os fluxos de investimento direto estrangeiro global cresceram da média anual de US$ 50 bilhões, nos anos 70, para US$ 600 bilhões, a partir dos anos 90, e mais de US$ 1 trilhão atualmente.

Houve uma expressiva integração entre as três dimensões citadas: investimentos, comércio e inovação. Cerca de 2/3 do comércio mundial são conduzidos por grandes empresas transnacionais, as mesmas que são responsáveis por grande parte das inovações, como destaca a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) no seu World Investment Report. Numa segunda fase, os países em desenvolvimento (PED) tornaram-se atores do processo com a também crescente internacionalização de suas empresas, com destaque para a Coreia do Sul e a China. Isso representou para os PED uma oportunidade para inserir-se como filial das grandes cadeias transnacionais, especialmente os de maior potencial de mercado interno. Por outro lado, vivenciaram também um rápido processo de desnacionalização das suas empresas. O quadro atual mostra gradual reversão do processo tradicional de internacionalização das cadeias produtivas. A crise nos países desenvolvidos, por um lado, e o crescimento dos custos de produção nos países em desenvolvimento, por outro, têm provocado uma relocalização da produção.

Os EUA tiveram como estratégia internacionalizar sua manufatura, concentrando no seu território as atividades nobres, como P&D, estratégia, design, marcas e patentes, etc. A crise elevou o desemprego e o governo Obama tem entre seus principais objetivos reindustrializar o país. Ademais, percebe-se que a produção é muitas vezes base para atividades de inovação, por exemplo.

Quanto ao aumento dos custos na periferia, na China, por exemplo, de 2004 a 2012 houve crescimento dos salários da ordem de 25%, segundo apurou o Departamento de Economia e Estatística da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos. Essa tendência continuará e a China planeja crescimento dos salários em 40% até 2015, como relatou o correspondente em Londres Fernando Nakagawa (Estado, 20/2, B8).

A globalização, que muitos consideravam irreversível, parece estar mudando de ventos. Ainda é cedo para conclusões definitivas, mas a mudança do jogo pode trazer aspectos favoráveis ao Brasil. Maiores custos na China, agravados por problemas de desequilíbrio do meio ambiente, que há pouco implicaram a necessidade de parada da produção por dias seguidos em Pequim, por exemplo, denotam o alto risco para a localização.

As "guerras" cambial e comercial em curso na economia mundial pós-crise só tornam mais explícitas algumas transformações estruturais. Além de ser um polo relevante nas cadeias produtivas, temos de avançar. Hoje muitas das grandes empresas transnacionais já operam no Brasil, com estrutura de vendas, produção e até exportação e centros de desenvolvimento locais. Também avançamos na internacionalização de nossas próprias empresas em diferentes segmentos. Mas ainda carecemos de uma estratégia integrada de inserção internacional mais ativa, incluindo as negociações multilaterais, regionais e bilaterais. Isso, porém, está longe de significar que estamos fora do jogo, como sugerem algumas análises. Diante das transformações em curso, o papel que vamos desempenhar dependerá da nossa capacidade de definir e implementar estratégias para viabilizar uma inserção global de mais qualidade.

Fonte: Estadão



Antonio Corrêa de Lacerda é professor-doutor do departamento de economia da PUC-SP e autor, entre outros livros, de "Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil" (Saraiva). Foi presidente do Cofecon e da SOBEET – alacerda@terra.com.br
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