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DEPOIS DO ENSINO MÉDIO?

André Haguette
24/12/2013



A baixa percentagem de jovens entre 15 e 24 anos cursando o ensino superior é um dos atrasos educacionais brasileiros mais sentidos. Somente uns 15% estão matriculados em universidades ou faculdades e a evasão é grande. Como o número preocupa exerce-se uma forte pressão sobre os alunos de ensino público para que se candidatem ao Enem e aos diversos vestibulares, coisa que poucos alunos pensam espontaneamente fazer por sentir-se desmotivados e despreparados. Compreendo a ansiedade dos responsáveis pela educação escolar que fixaram a meta de ter 35% dos jovens matriculados no ensino superior até 2020. Mas é razoável pensar que a totalidade dos alunos secundaristas deve visar o ensino superior? Já não é o caminho seguido pelas escolas profissionalizantes que preparam o aluno tanto para uma profissão técnica como para o ensino superior.

Temo que, em vez de estimular, a insistência das escolas em conduzir todo o alunato para o Enem e os diversos vestibulares possa rebaixar mais ainda a autoestima do aluno, diante de um provável fracasso nesses exames. Parto da constatação de que nem todos os jovens são vocacionados e têm gosto para uma formação teórica universitária e profissões liberais. Creio que em vez de apontar um só caminho ao aluno, a todo e qualquer aluno, de qualquer classe social, deva-se prepará-lo para uma escolha consciente entre dois caminhos: o técnico e o superior, caminhos que devem sempre ficar intercomunicáveis, sendo possível passar de um para o outro em qualquer momento da vida escolar ou depois. Se, no Brasil, há uma enorme carência de jovens com formação superior, a deficiência não é menor em termos de mão de obra técnica especializada. Hoje, o leque de profissões técnicas ou tecnológicas é extremamente amplo e atraente, remunerando cada vez melhor e necessitando de pessoas inteligentes, preparadas e cultas. Não é mais imprescindível ter uma formação universitária para ser um profissional bem sucedido e um cidadão digno.

Tanger os alunos para os vestibulares, se não é errado, não me parece necessário, sábio e nem, sobretudo, suficiente. É preciso abrir perspectivas de inclusão na sociedade do trabalho, quer com graduação, quer com formação técnica, de acordo com as preferências e as habilidades de cada um. Isso significa apontar ao alunato tanto o caminho do ensino superior, preparando-o e convidando-o a se matricular no Enem e nos vestibulares, como o introduzindo às inúmeras profissões técnicas.

Essas reflexões me ocorreram a partir de visitas a escolas públicas regulares de ensino médio e de conversas com gestores, professores e alunos. Enquanto vi claramente que nem todos os alunos estão desejosos de cursar o ensino superior, gestores e professores, atendendo a uma orientação da Secretaria de Educação, pressionam para que se matriculem nos exames de entrada do curso superior. Não constatei nenhuma medida concreta para incentivar e preparar o aluno a ingressar em cursos técnicos. Assim poderemos repetir a situação atual: quem não entrar num ensino superior de qualidade fica a ver navio, despreparado para qualquer outro trabalho e, consequentemente, tornando-se um cidadão de secunda classe.


Fonte: O Povo



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