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O CÂMBIO NO BRASIL

Benedicto Ismael C. Dutra
27/02/2014



João Medeiros, sócio Diretor da Pionner Corretora de Câmbio, falou ao Clube sobre o tema. Iniciou dizendo: “Costumo dizer na corretora que tudo o que acontece no Brasil hoje em dia, acontece em primeiro lugar pelo câmbio.”

Dos grandes investimentos estrangeiros no Brasil, existem os empréstimos em moeda, compra de títulos e o grande volume de exportação e importação. O turismo também tem nos levado a uma situação complicada, principalmente com esta última medida do governo em taxar com IOF - Imposto sobre Operações Financeiras de 6,38% o câmbio dos turistas brasileiros; o cartão de débito, uma moeda fantástica em função da segurança que oferece às pessoas que o utiliza com tranquilidade no exterior.

Temos principalmente o primeiro grande vencimento de títulos do governo, o empréstimo de moeda com recompra garantida para o início de maio, com um câmbio a R$ 2,46 por dólar ou coisa do tipo, acreditamos que o câmbio tenha efetivamente uma rota ascendente. Hoje nós tivemos uma taxa de R$ 2,42, que retornou aos R$ 2,40 e o que se vê, são grandes problemas, por exemplo, já no início de janeiro um déficit comercial de mais ou menos US$ 6 bilhões. A primeira semana de fevereiro com déficit comercial de US$ 1 bilhão e isso tudo vem gerando um certo desconforto e o grande problema que a gente viu, por exemplo, com o Ministro Mantega, há uns 2 ou 3 anos atrás, a perspectiva do governo americano de reduzir as taxas de juros em função do programa que fizeram para a solução do mercado de trabalho e, também, a colocação de títulos americanos de US$ 85 bilhões por mês no mercado e já fizeram duas reduções; estamos agora com US$ 65 bilhões e, ontem, para uma surpresa geral do mercado, a nova presidente do FED - Banco Central Americano não continuou com o corte de US$ 10 bilhões.

Segundo alguns grandes analistas e economistas americanos, como Paul Volcker, que era candidato a essa vaga no FED e foi preterido, este dinheiro barato que os EUA estão colocando no mercado, é uma ‘cocaína’ para o mercado, ou seja, no momento que cortar os investimentos de US$ 65 bilhões, ocorrerão alguns problemas sérios com as taxas de juros internacionais, principalmente as taxas de 10 anos, o que levará os países emergentes, agora não mais aos emergentes a terem problemas.  Como disse Fernando Henrique Cardoso: “Eu acho que nós vamos passar por alguns problemas sérios e isso tudo por falta de uma política saudável do governo em relação à política cambial”.

O Dr. Maílson da Nóbrega há uns dias atrás, fez uma colocação, a meu ver, a mais precisa nestes últimos meses: “Quanto tempo a Venezuela está demorando para se tornar uma Cuba? Quanto tempo a Argentina vai demorar para se tornar uma Venezuela? Em quanto tempo nos transformaremos em uma Argentina?”. Isso é o que mercado trabalha hoje. Como consequência estamos vendo o Banco Central efetivamente com uma política que na realidade é ditada pela Presidente Dilma, ao contrário dos outros presidentes do Banco Central, que atendem à Presidente e não efetivamente aos interesses nacionais.

Assim, deveremos ter um ano difícil e complicado, principalmente com a realização da copa do mundo, carnaval e eleições. Além disso, os grandes problemas da importação brasileira, estão transformando o Brasil em exportador de no máximo meia dúzia de produtos: soja, milho, carne suína, bovina ou de frango, sem falar no problema das exportações de minérios, com preços aviltados e o Brasil diminuiu fantasticamente a força dessas exportações.

A Argentina é hoje nosso grande parceiro comercial, principalmente nas exportações automotivas. Exportamos carros de menor cilindrada e importamos as Hilux e outros carros. Com o aumento na taxa do peso Argentino em relação ao dólar, facilitamos a importação dos produtos argentinos e dificultamos nossas exportações. Isso tudo acompanhado de uma política na qual o Brasil deu as costas aos grandes investidores e aos parceiros.

De uma maneira geral fomos ao Mercosul e nos associamos à Argentina, Venezuela, Bolívia e El Salvador. E, ainda, contamos com a grande obra da Presidente Dilma, como disse o jornal ‘O Estadão’ outro dia: “Foi inaugurada, não no Brasil, mas em Cuba”. Foi feito lá um grande porto com financiamento do BNDES e pelo qual não sei se algum dia, receberemos algo em troca do que foi investido, ainda que construído por exportadores e empreendedores brasileiros.

Esse é o quadro que vemos hoje no Brasil. O restante do câmbio é uma política do dia-a-dia.  Deveremos também ser prejudicados se continuarmos com gastos excessivos no exterior. Em 2013 compramos mais de US$ 20 bilhões nessas viagens, prejudicando o superávit brasileiro em moeda estrangeira e encerramos o ano com dívidas em moedas estrangeiras em mais ou menos US$ 80 bilhões negativos. O superávit brasileiro vem migrando ano a ano. Estima-se que se tudo correr bem, em 2014 teremos um superávit na casa de US$ 3 bilhões; em 2013 o superávit foi de pouco mais de US$ 1 bilhão, calcado especialmente nas exportações fictícias das plataformas da Petrobrás, apesar de que isso não é nenhuma novidade.

Fonte: Rotary SP (pdf)


Não se pode brincar com as contas externas. Mas tem sido uma constante o descuido nessa questão, até ficar sem equilíbrio nas contas, com déficit e sem reserva. Incapacidade? Má fé? Ou ciladas do mercado? De tudo um pouco. Parece que estamos caminhando de novo para isso, com o risco de cair outra vez no buraco da estagnação geral. Se não houver redobrado cuidado com o equilíbrio das contas externas, corremos o risco de ficar economicamente travados pela falta de liquidez, a aí, de pires na mão, vamos ter de aceitar os juros impostos pelo mercado.



Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini e é associado ao Rotary Club de São Paulo. É articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros: “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”;“2012...e depois?”;“Desenvolvimento Humano”; “O Homem Sábio e os Jovens” ,“A trajetória do ser humano na Terra – em busca da verdade e da felicidade”; e “O segredo de Darwin - Uma aventura em busca da origem da vida”(Madras Editora). E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7
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